Designer: Franco Scaglione
“Génio solitário. Estudioso da aerodinâmica. Criador de elegância”, é assim que o descreve a placa que adorna a casa onde nasceu, em Florença, em 1916. Franco Scaglione foi autor do desenho de alguns dos automóveis mais consensualmente belos e, ao mesmo tempo, arrojados.
Embora descendente de famílias nobres, Scaglione teve um início de vida difícil. Os seus pais conheceram-se na vida militar, sendo o pai médico-chefe no exército e a mãe era capitã da Cruz Vermelha italiana.
Scaglione e o seu irmão mais novo ficariam órfãos de pai ainda muito novos. Franco tinha apenas seis anos.
A motivação para a vida militar estava-lhe no sangue e acabaria por se voluntariar para combater na Líbia durante a Segunda Guerra Mundial. Na véspera de Natal de 1941 seria feito prisioneiro na India até 1946. Regressaria a casa no primeiro dia de 1947 para se juntar a sua mãe. Não voltaria, no entanto, a ver o seu irmão Eugenio, pois este pereceu em combate durante a guerra.
Em 1948 Franco muda-se para Bologna para perseguir a ambição de viver como designer. Embora a sua paixão fosse o automóvel, dedica-se durante algum tempo à moda, actividade que lhe permitia subsistir. Nesse mesmo ano, casa-se com Maria Luisa Benvenuti e, dois anos mais tarde, teriam uma filha, Giovanna Scaglione, que hoje mantém viva a memória do pai, falecido em 1991
A primeira tentativa para ingressar no design automóvel foi feita junto de Pinin Farina, mas este não permitia, até então, que o nome dos designers que para ele trabalhavam fosse associado aos respectivos projectos, e aparentemente, esse facto terá sido decisivo para que Franco abordasse Nuccio Bertone. Assim começou uma cooperação que duraria até 1959. Durante esse prolífico período, Scaglione realizou várias criações notáveis que se tornaram marcos do design automóvel. O destaque vai para os Alfa Romeo Giulietta Sprint e Sprint Speciale e para os exuberantes estudos aerodinâmicos, os Bertone B.A.T..
Em 1959 Scaglione era um talento muito requisitado e por isso decide quebrar a sua relação com a Bertone para trabalhar de forma independente. Nesse período cria dois automóveis muito marcantes. Um deles o protótipo do primeiro Lamborghini, denominado 350 GTV, e de que depois seria adaptado para produção, dando origem ao 350 GT. O outro seria um modelo de competição: o Porsche 356B Abarth Carrera GTL, um modelo que se crê ter sido a inspiração para as linhas do 911.
No entanto, a sua ligação à Alfa Romeo teria um novo desenvolvimento, quando a Autodelta recrutou os seus serviços para criar a versão Stradale do Alfa Romeo Tipo 33. Nascia assim um dos mais aclamados desenhos automóveis de todos os tempos.
Durante esta fase, o designer envolveu-se na criação de uma nova marca italiana, a Intermeccanica, para a qual desenhou vários modelos, num investimento pessoal cujo retorno dependeria das vendas. Contudo, a empresa abriria falência, deixando Scaglione com grandes perdas e, sobretudo, desiludido e sem vontade de continuar a trabalhar. Reformou-se em 1981 e foi viver para Livorno, numa pacata aldeia, até à sua morte, vítima de cancro do pulmão, em 1991.
Um mestre das proporções, da fluidez de linhas e da aerodinâmica, Scaglione foi um verdadeiro Mestre do design e a dimensão e influência da sua obra só começariam a receber o merecido reconhecimento anos mais tarde.