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Rituais da época: ECOTY e um passeio

A quadra natalícia é feita de rotinas anuais, mas além das tradicionais, cada um tem as suas. Estas são as minhas.
Hugo Reis
31 de dez. de 2024

Se o seu Natal é minimamente normal, por esta altura já estará um pouco desorientado quanto aos dias da semana, a sua balança já terá comunicado notícias menos boas e ainda haverá restos para comer.

Tudo isto pode soar como negativo para alguns, mas eu, apesar de não ser religioso, adoro esta época e os seus rituais, e aceito as consequências sem grande peso de consciência. 

O Natal é uma construção de diversas tradições que todos seguimos mais ou menos da mesma forma mas, a mim, o lado de entusiasta, “obriga-me” a juntar mais um par de tradições auto-impostas, por vezes difíceis de encaixar nas obrigações familiares e na azáfama da época. 

Um deles é o passeio de Natal num clássico ou desportivo “só porque sim”. Especialmente quando o clima, como este ano, colabora com dias soalheiros e frios, perfeitos para um automóvel antigo ou um roadster qualquer. 

Outro ritual da época - que de certa forma inspira o anterior - é a leitura obrigatória do ano: desde há 26 anos (até fazer a pesquisa para escrever isto pensei que eram menos de 20!) que, religiosamente, arranjo o tempo para ler o mais empolgante artigo anual da imprensa automóvel. 

O EVO Car Of The Year, é um mega-teste em que os reputados jornalistas da revista juntam os automóveis mais interessantes do ano, na perspectiva do puro prazer de condução: preço, raridade ou performance absoluta não são factores a considerar.

Os critérios fundamentais são a emoção e o prazer sensorial oferecido pelas diferentes máquinas em contenda porque, no fim de contas, isso é o que verdadeiramente interessa e é o que define um ícone. 

Os automóveis podem ser mais ou menos interessantes, mas o que importa é a forma como a história se desenrola e a mestria de quem a conta. Recorde-se que a EVO foi a publicação que trouxe para a ribalta nomes como Chris Harris, Henry Catchpole , Jethro Bovingdon e Richard Meaden, mas por onde passaram outros jornalistas reputados como John Barker, John Simister, ou o saudoso Russell Bulgin. Outros autores incluem o principal investidor na publicação e hoje estrela do YouTube, Harry Metcalfe (Harry’s Garage), o genial jornalista e guionista do Top Gear e Grand Tour, Richard Porter, Rowan Atkinson, Gordon Murray e muitos outros. 

Ao brilho da escrita soma-se a fotografia de altíssima qualidade, para a qual contribuem, em muito, os cenários deslumbrantes dos destinos escolhidos para o teste. Escócia é um destino frequente. Este ano a escolha recaiu em Espanha, nas redondezas de Navarra, mas em outros anos já passou por França, Itália e mais do que uma vez pelo Algarve, incluindo o autódromo de Portimão, muito graças à influência de Paulo Pinheiro. 

São dezenas de páginas que nos permitem, guiados pelas palavras, sentar ao volante dos mais fantásticos automóveis desportivos e perceber as sensações de condução de cada um, em diferentes cenários.

Parece exagero, mas ler um bom texto é o mais perto que se pode chegar da sensação de conduzir os ditos modelos. Dificilmente um bom trabalho em vídeo nos consegue dar o mesmo nível de detalhe, a mesma clareza de sensações. Só em emoção se pode equiparar mas, e o tempo para saborear, para interiorizar? 

Estive a um canto da casa, a aproveitar o sol, mas em pensamento estive a viajar entre curvas e montanhas, rodeado de alguns dos melhores colegas de profissão. Foi soberbo, como sempre. 

Foi com leituras como esta que um dia sonhei ter esta profissão mas, mais do que tudo, foi com leituras como esta que aprendi a exercê-la. E é por isso que continuo, desavergonhadamente, a comprar mais e mais revistas e a escrever para elas.

Serve isto para dizer que, por muito que eu deseje que gaste o seu tempo nas páginas digitais da Motorbest, há um espaço onde a leitura se torna transcendente, que nunca poderá acontecer na frieza de um ecrã. Os textos longos, os mergulhos mais profundos no mundo das emoções sobre rodas, só podem acontecer na imensidão, no silêncio e no conforto do papel. 

O Natal é um bom tempo para perder tempo. Leia uma boa revista ou um bom livro sobre automóveis, porque Janeiro já está aí, e é como uma longa segunda-feira que nos suga as energias e nos deixa pouco tempo livre e, para esses bocadinhos, temos a Motorbest.pt

Bom ano novo e obrigado por estar connosco!