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Sonha com um C-type? Esta é a sua melhor chance.

Há 30 anos, a Jaye Engineering criou reproduções tão fiéis do C-type que enganaram até os organizadores das Mille Miglia. Este exemplar é perfeito, está em Portugal e pode ser seu.

Nos anos 50 escreveu-se alguns dos mais épicos episódios do automobilismo de competição e a história do C-type é disso exemplo. Um elegantíssimo automóvel que conquistou Le Mans, para além de dezenas de vitórias noutras importantes competições e que é o exemplo máximo do poderio da Jaguar e do arrojo de William Lyons naquela época.

Hoje, um C-type permanece como um dos mais desejados automóveis de competição de todos os tempos mas, com apenas 53 unidades construídas, é um sonho difícil de alcançar até para quem tem os quatro a sete milhões de euros necessários para comprar um. Se optar por um dos Lighweight originais, a soma pode ascender aos 13 milhões, como aconteceu em Monterey em 2015.

C-type original, era pouco mais do que um Jaguar de estrada?
Na verdade, originalmente, o modelo chamava-se Jaguar XK120 C, sendo que o “C” referia a variante de competição. Essa designação, que seria abandonada a favor do nome C-type, deixa claro que este modelo era, efectivamente uma evolução de Jaguar de estrada, só que não era um automóvel qualquer... 

Para a época, a performance de um XK120 era absolutamente fora de série, graças ao baixo peso e ao mítico motor de seis cilindros e dupla árvore de cames, que foi concebido para mover berlinas de luxo, mas alcançou a fama nos leves e rápidos desportivos. 

Os XK120 fizeram brilharetes nas mãos de privados nas 24H de Le Mans e isso fez com que William Lyons desse luz verde ao engenheiro William Heynes  para desenvolver uma variante com chassis em estrutura tubular e carroçaria de alumínio mais aerodinâmica para ir lutar pela vitória.

O C-type tinha tudo a seu favor. Além de ser 350kg mais leve do que um XK120 de alumínio, retirava mais 40cv do mesmo motor 3.4, ascendendo aos 200cv. Numa primeira fase mantinha os travões de tambor, mas seria o primeiro modelo a estrear travões de disco (fabricados pela Dunlop) na competição. A suspensão traseira é de eixo rígido e a dianteira é independente com triângulos sobrepostos. O amortecimento está a cargo de barras de torção.

Em 1951 dava-se a estreia em Le Mans, com a Jaguar a inscrever três exemplares. Dois desistiram, mas o terceiro, pilotado por Peter Whitehead e Peter Walker, venceu com nove voltas de avanço sobre o segundo classificado, um Talbot-Lago T26. 

No mesmo ano, Stirling Moss venceria o Tourist Trophy com um C-type. 
Depois de um fraco resultado em Le Mans em 1952, a marca voltaria em 1953 com os três exemplares Lighweight com travões de disco e conquistaria primeiro, segundo e quarto lugares da geral. Um percurso lendário, que só seria batido pelo do seu sucessor, o D-type.

O sonho de um coleccionador.
Com tal currículo, o C-type tornou-se, naturalmente, um objecto de sonho para os grandes coleccionadores, mas com tão poucas unidades produzidas, a oferta é demasiado escassa. Por isso, e atendendo à relativa proximidade entre este modelo e o XK que lhe serve de base, não tardou a que surgissem empresas dedicadas a reproduzir o C-type, com resultados para diferentes orçamentos e correspondentes níveis de rigor.

Na base das opções estão exemplares com carroçarias em fibra e formas aproximadas ao original. No topo de tudo, para quem quer a experiência completa, há aquilo a que os ingleses chamam “tool room copy”, ou seja, reproduções feitas com o máximo de material original Jaguar e, no restante, são fabricados de forma rigorosamente igual ao modelo original. 

São de tal forma perfeitos que podem obter certificação FIA e competir ao lado de exemplares originais e provas com o Goodwood Revival ou o Le Mans Classic, entre outros.

Suficientemente bom para enganar os especialistas
De entre todos aqueles que se dedicaram a reproduzir o C-type, Peter Jaye é o nome que mais se destacou. Famoso restaurador de modelos de competição da Jaguar, teve pleno acesso à versão original para tornar possível a sua reprodução exacta, quer em dimensões como materiais e especificações. 

Aliás, o rigor é tal que se tornou famosa a história de um proprietário italiano que, tendo acesso aos documentos de um exemplar original destruído numa prova, usou a sua identidade para o fazer passar por original, o que conseguiu com assinalável sucesso. Não só conseguiu que passasse pelo “pente-fino” dos rigorosos comissários das Mille Miglia históricas, como ainda o conseguiu vender como sendo genuíno. Naturalmente, acabaria por ser detectada a fraude, que originou um processo em tribunal que não lhe ficou barato...

Um exemplar praticamente perfeito
No total, a Jaye Engineering terá produzido uma dúzia de exemplares, sendo que um deles foi encomendado em 1992 por um coleccionador português, que o manteve até à data e que agora o coloca no mercado. 

Ao contrário de outros, este foi mesmo contruído com base num XK120, tal como a versão original, e usa o respectivo número de chassis, bem como o motor de 3442cc. 

A pedido do proprietário, este exemplar tem a mesma especificação dos modelos que competiram em 1953, com três Weber 45 e a mesma tomada de ar, o que melhora a sua performance e durabilidade, assim como os travões de disco Dunlop, neste caso provenientes de um XK150 e em tudo semelhantes aos do modelo original.

Pouco e bom uso.
Este magnífico automóvel é o equivalente da época a um “hypercar” de Le Mans actual, contudo, à semelhança do que aconteceu com 43 dos exemplares originais, está homologado para estrada, tendo recebido matrícula portuguesa em 1994, pelo que pode ser usado legalmente. 

Apesar disso, o uso que lhe foi dado ao longo destes 30 anos foi bem diferente: entusiasta de mão-cheia, o seu proprietário fazia transportar regularmente o Jaguar até ao circuito mais próximo, onde desfrutava dele em sessões privadas, sem pressão e sem risco. 

Assim, esta reprodução, além de ser em tudo um C-type, traz consigo as pequenas marcas de uso que lhe dão o ar de máquina de competição, como os sinais do calor irradiado pelo escape. 

Detalhes que encantam e nos transportam para o cenário das corridas, que poderá bem ser o seu destino se o futuro proprietário assim o entender, caso decida obter o Passaporte Técnico FIA que lhe abrirá as portas das mais importantes competições de clássicos a nível mundial.

Este exemplar ainda se encontra em Portugal e pode ser seu por 400.000€. Um valor que pode estar fora do alcance de um normal entusiasta mas que, ainda assim, é um décimo do que custa o modelo original e pode proporcionar as mesmas sensações e memórias.

Os interessados deverão contactar este endereço e-mail.