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Injustiçado: Citroën GS

O GS trouxe para um segmento mais acessível todas as tecnologias incríveis do DS, mas é um clássico esquecido. É vítima da própria genialidade?
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31 de jul. de 2024

Recordo-me perfeitamente de ser criança e ficar espantado da primeira vez que andei num automóvel que tinha um painel de instrumentos completamente surreal, um travão de mão integrado num tablier de design futurista e, pasme-se, uma suspensão que subia e descia, adaptando-se às necessidades de cada momento. Era um Citroën GS 1220 Pallas, castanho com interiores do mesmo tom, e parecia vanguardista mesmo passados mais de dez anos sobre o seu lançamento. 

As tecnologias em causa tinham então mais de 30 anos, mas a verdade é que continuava a não haver nenhum automóvel que rivalizasse em conforto e serenidade com o GS, a não ser o velho DS. 

Mas enquanto este último era um modelo de topo de gama, o GS era um carro de segmento médio, que disputou mercado com carros tão banais como um Ford Cortina, um Toyota Corolla ou um Opel Rekord. Verdadeiros “pães sem sal” quando comparados com aquele francês de linhas aerodinâmicas que mereceu, inclusivamente, o prémio de Carro Europeu do Ano em 1971. 

Desenhado por Robert Opron, o GS era um automóvel com formas vanguardistas mas, sobretudo, era espaçoso, versátil, confortável, ágil, leve e fácil de guiar. Mas como acontece com tudo o que é diferente, também gerava as maiores desconfianças por parte do comprador comum e menos informado. 

Os rumores sobre as terríveis despesas com o sistema hidráulico assustavam boa parte dos compradores, especialmente no mercado de usados. No entanto, esse nunca foi um verdadeiro calcanhar de Aquiles do Citroën. Os seus problemas eram, na verdade, bem mais tradicionais… A corrosão era um deles. 

Como é comum a outros carros franceses daquela época, a qualidade da chapa do GS era sofrível e a ferrugem aparecia um pouco por toda a carroçaria, em todas as gerações do modelo. A qualidade de construção dos modelos produzidos até 1973 padece de alguns problemas de juventude, da mesma forma que as unidades construídas após 1979 sofreram de problemas de contenção de custos. Estes são, no entanto, problemas que não afectam a fiabilidade do modelo. 

Os motores boxer, pela sua invulgaridade, poderão representar um desafio para os menos acostumados aos Citroën, mas são geralmente bastante fiáveis. As fugas de óleo não deverão assustar, porque são frequentes assim que os vedantes começam a secar. 

O sistema hidráulico, que é no fundo o aspecto mais temido pela grande parte dos proprietários, é bastante fiável e económico de manter, desde que seja mantido a salvo da corrosão. 

Feito o balanço, o GS não é mais nem menos problemático do que os seus concorrentes da época. Em compensação, enquanto clássico, é uma escolha muito mais original. No segmento em que o GS competia, raramente houve carros tão distintos e avançados tecnologicamente, sendo que depois do GS, talvez a única pedrada no charco dos pequenos familiares tenha sido o Toyota Prius. 

No entanto e, apesar de terem sido vendidas mais de 2.5 milhões de unidades, é já muito difícil encontrar um exemplar em circulação. Será tempo de fazer justiça?