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Les Leston, “o influencer” dos equipamentos

Foi piloto ao mais alto nível e, quando teve de parar, capitalizou a popularidade ao vender acessórios e mudou a forma como os pilotos se equipavam.
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10 de out. de 2024

Hoje quando falamos de volantes desportivos ou acessórios para competição, lembramo-nos de marcas como Sparco, Momo, etc. Mas nos anos 50 e 60, quem quisesse ter um automóvel bem “aprumado”, tinha de ter um volante Les Leston, se possível para manusear com umas luvas de condução da mesma marca.

Natural de Inglaterra, nasceu em 1920 com o nome Alfred Lazarus Fingleston. Em meados dos anos 20, o pai, empresário do sector do carvão, viu o seu negócio ruir. Assim, mudou-se com a família para os arredores de Londres e mudou o sobrenome para Leston e o nome do filho para Les. 

Enquanto adolescente, Les tornou-se um baterista autodidacta, dedicando-se ao jazz com grande sucesso, tendo integrado várias bandas reputadas. Um trajecto artístico que foi interrompido pela guerra. Serviu como artilheiro, tendo ascendido a Sargento na carreira militar. Depois do conflito, ele e o pai, fundaram um negócio de comércio de componentes e acessórios para a aviação.

Por tudo isto, é tardiamente, aos 29 anos, que se inicia na competição, com um ultrapassado SS100, tendo rapidamente optado pelos monolugares. Em 1951 competiu na Fórmula 3 britânica com um Keift, tendo obtido vários pódios, batendo mesmo pilotos como John Cooper.

No ano seguinte foi campeão de F3 em rampas e participou no Grande Prémio do Luxembrugo onde venceu, superiorizando-se, entre outros, a Stirling Moss e Peter Collins. Ao longo de anos foi acumulando resultados de relevo em F3 e F2. 

O seu talento foi notado, tornando-se piloto oficial da Aston Martin e da Connaught.
Dividindo o DBR1 com Roy Salvadori, fez sexto nos 1000km de Nürburgring e desistiu nas 24H de Le Mans. Em provas de Fórmula 1 extra-campeonato, Leston conseguiu vários resultados de relevo, ombreando com pilotos profissionais de primeiro plano.

Em 1958 aventurou-se com o seu Riley 1.5 nos ralis e também no Campeonato Britânico de Turismo, tendo vencido a classe na primeira prova em que alinhou. No anos seguinte, tornar-se-ia campeão do agrupamento B.

Um negócio iniciado por... acidente

Ainda em 1958, Les Leston teve um acidente sério quando pilotava um Lotus XII no circuite de Caen. Uma falha mecânica provocou o violento despiste, mas estando a única ambulância do circuito ocupada, Leston permaneceu à espera de ajuda durante umas agonizantes 14 voltas. 

Daí para diante, a sua carreira focar-se-ia na marca de equipamentos que já mantinha há algum tempo. O furgão Ford Thames 400E da Leston’s Racing Service, era presença assídua nos circuitos. Os primeiros produtos foram os volantes e punhos do selector mas, progressivamente, Leston iria focar-se no equipamento dos pilotos: capacetes luvas e, especialmente, fatos integrais, que à época eram uma total novidade. 

A segurança e uma mudança de paradigma

Tanto nos automóveis de competição como nos de estrada, a Les Leston deixava a sua marca, propagando-se rapidamente, com produtos muito bem desenhados e produzidos, particularmente os bonitos volantes de madeira. Leston foi ainda agente e fornecedor da Speedwell.

Contudo, o grande legado de Les Leston seria no capítulo da segurança dos pilotos, tendo-se tornado um pioneiro na criação de fatos ignífugos.

Tudo começou quando Les Leston decidiu produzir fatos integrais que eram embebidos num produto retardador de combustão, que foi criado para as cortinas dos teatros de West End. Mais tarde, seria o responsável pela introdução na competição de tecidos como o Protex e o, ainda hoje usado, Nomex.

Leston provou ser um excelente marketeer, investindo numa eficaz campanha de promoção dos seus produtos, recorrendo à imagem de Graham Hill e de Peter Proctor, um piloto inglês que, num acidente em Goodwood em 1966, ficou seriamente desfigurado pelas chamas e com queimaduras em 65% do corpo.

Proctor, que continuou a ser uma figura proeminente do meio, decidiu fazer parte de um anúncio de Les Leston, em que o seu rosto aparecia em primeiro plano. O “copy” do anúncio dizia algo como: 

“O meu nome é Peter Procter. Gostaria de falar sobre um novo material à prova de chamas para pilotos de competição.” 

Depois de uma breve descrição das características do produto, rematava com: 

“Uma última coisa: poderá achar desagradável que eu apareça neste anúncio. A minha razão é a seguinte: os pílotos não são obrigados a usar roupas à prova de fogo neste país; pode correr de t-shirt se quiser. Penso que deveria ser obrigatório o uso de vestuário de protecção adequadamente concebido, e se eu conseguir persuadir nem que seja um piloto a melhorar os seus standards de segurança, acho que já se justificou a minha aparição. ”

Peter Procter terminava explicando que o dinheiro que recebeu pela participação no anúncio seria doado à “McIndoe Burns Unit”, uma unidade de investigação e tratamento de queimados.

Rádio, TV e o “negócio da China”

Carismático, bem relacionado e conhecedor, Les Leston acabaria por ser recrutado pela BBC, no final da sua carreira, para comentar provas e realizar entrevistas nas provas.

No final dos anos 70, a Les Leston deixou de produzir acessórios, dedicando quase exclusivamente à produção de vestuário promocional associado à competição, tendo encerrado a sua loja na Finchley Road, em Londres.

Posteriormente, mudou-se para Hong Kong, onde o seu negócio continuou com algum sucesso, graças à produção na China e a vários bons contratos na Europa..

Contudo, nos anos 90, Les regressou ao Reino Unido, onde viveu até ao final da sua vida. Morreu em 2012 depois de um longo período de doença. 

O coleccionismo e uma segunda vida da marca

Nos últimos anos, os netos de Les Leston, muito activos no universo dos automóveis antigos, tem vindo a manifestar a vontade de reavivar a marca. Contudo, até à data, produziram pouco mais do que algum merchandising. 

A marca, contudo, persiste na memória dos entusiastas, havendo uma imensa comunidade de fãs dos acessórios Les Leston. 

Nas feiras e leilões, os acessórios da marca continuam a ser transaccionados por valores elevados. Volantes, punhos, retrovisores, roupa, luvas, porta-chaves, entre outros, são hoje verdadeiros objectos de culto.