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Grandes inovações: carroçaria “ponton”

A expressão define uma mudança radical na forma do automóvel. A expressão é mesmo associada a certos modelos, mas o que significa, afinal?
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14 de fev. de 2025

Há inovações que nos parecem hoje demasiado óbvias, mas que, no seu tempo, terão causado grande impacto, quer do ponto de vista técnico, quer do design. A carroçaria em formato “ponton”, é uma delas.

O que significa, afinal, o formato “ponton”? Trata-se de carroçarias em que os guarda-lamas dianteiros são visualmente contíguos ao capot, por oposição ao que sucedia na generalidade dos modelos pré-guerra, em que este elemento era separado, em alguns casos, acompanhando o movimento das rodas.

Foram sobretudo os benefícios aerodinâmicos a ditar esta evolução, mas depressa se tornou evidente que este formato traria muito mais liberdade aos designers e revolucionaria os métodos de construção.

Porquê “ponton”?
A origem do termo não é fácil de explicar e a sua. Originalmente, a expressão “pontoon” significa “flutuadores”, como aqueles que podemos ver, por exemplo, num hidroavião. 

Curiosamente, a expressão começou a ser aplicada, primeiramente, a carroçarias com guarda-lamas separados do capot, mas cuja forma era envolvente alongada e aerodinâmica, efectivamente parecidos com as formas dos flutuadores. 

Então como é que a expressão acabou a servir para definir precisamente o oposto? A explicação remonta ao período da segunda grande guerra, altura em que os alemães foram os primeiros a introduzir um formato de tanque de guerra em que as “lagartas” ocupavam toda a lateral do veículo, assemelhando-se a flutuadores.

Nos formatos de carroçaria pós-guerra, o que vemos é precisamente uma continuidade do perfil superior do guarda-lamas ao longo de toda a carroçaria, vincando a chamada “linha de cintura”, o que explica a associação do termo. 

Aplicações contraditórias da expressão
Provoca, no entanto, alguma confusão, o facto da expressão “ponton” - ou “pontoon” no inglês - continuar a ser usada para definir uma coisa e o seu oposto. 

Por exemplo, quando falamos do Ferrari 250 TR de 1958 com carroçaria Scaglietti, referido-lo como o 250 TR “pontoon”, devido aos então invulgares guarda-lamas salientes, desenhados por motivos aerodinâmicos. Isto em contraste com as versões em que os guarda-lamas são integrados, como é o caso da carroçaria original de 1957, ou da versão Fantuzzi.

Muito diferente é o caso dos Mercedes-Benz W120/121, que acabaram mesmo por ficar conhecidos como “Mercedes Ponton”, pelos motivos óbvios, ou seja, por serem os primeiros modelos da marca com os guarda-lamas integrados. 

Cronologia e modelos mais marcantes da tendência
O primeiro automóvel de que há memória sem guarda-lamas destacados, foi concebido por Paul Jaray, designer húngaro que viria a colaborar com a Tatra.

Ainda antes da guerra surgiram mais alguns projectos isolados de automóveis de competição com formato “ponton”, nomeadamente o Alfa Romeo Aerodinamica Spyder desenhado em 1935 e o igualmente futurista e elegante BMW 328 Mille Miglia de 1936 e mais ainda a versão Touring de 1939.

Contudo, o primeiro automóvel de venda ao público – e construído em pequena série – a adoptar o formato “ponton”, seria o Cisitalia 202 de 1946, da autoria de Giovanni Savonuzzi, e posteriormente desenvolvido pela Pinin Farina. 

Um modelo muito exclusivo e usado sobretudo em competição, mas cujo design foi de tal forma inovador que lhe mereceu lugar permanente no MoMa – Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, por considerar que este foi o modelo que transformou o design automóvel do pós-guerra.

Pouco depois surgiria, com design de Giovanni Michelotti ao serviço do Stabilimenti Farina, o Alfa Romeo 6C 2500 S Cabriolet, outro pioneiro do formato, a par da versão Ghia do mesmo carro, com desenho de Mario Felice Boano.

Mas do outro lado do atlântico, não tardavam a surgir outros exemplos, como o Packard Custom Super Eight de 1948 e, até ao final da década, o formato tradicional de carroçaria praticamente desaparecia.