Motorbest

Datsun 1200: tanto por tão pouco...

Nasceu para ser um modesto familiar, mas acabou por tornar-se um ícone do automobilismo. Como se não bastasse, é indestrutível, confortável e simpático.
Motorbest
25 de out. de 2024

A saga dos Datsun ou Nissan Sunny é longa, e seria quase aborrecida ou olvidável, não fosse pelas gerações B110 e B210, conhecidos em Portugal como Datsun 1200 e Datsun 120Y.  Foi, no entanto o B110 que marcou, não uma, mas várias gerações de entusiastas, mas também utilizadores comuns de automóveis. A unanimidade entre diferentes tipos de utilizadores, diz muito sobre a versatilidade do modelo. A série Sunny começa com a geração B10.

Era um automóvel bastante tradicional do ponto de vista técnico, com um design pouco apaixonante e um motor algo limitado. Com 62cv retirados de apenas 988cc, a potência especifica era acima da média, mas o binário era reduzido e o comportamento não era referencial. Também não era no papel que o B110 impressionava. O motor de 1171cc era razoavelmente potente, com 68cv às 6400rpm.

A suspensão independente do tipo McPherson à frente era bastante mais eficiente do que a solução do seu antecessor, e atrás a opção continuava a ser um eixo rígido com molas semi-elípticas. O baixo peso, apenas 690kg, era um dos trunfos do modelo.

A carroçaria tinha variantes sedan de duas e quatro portas, coupé, van e pick-up, o que provava a versatilidade da solução mecânica, que se adaptava a qualquer tipo de utilização.

A maior surpresa do Datsun era, no entanto, o seu extraordinário equilíbrio que, combinado com a leveza e precisão dos comandos, o tornavam fácil e divertido de guiar, além de eficaz em zonas sinuosas. Daí que fosse expectável a criação de uma versão de carácter mais desportivo. O 1200 GX (sigla para Grande Luxury) era mais rico em equipamento, mas tinha como grande trunfo um motor com 83cv. Infelizmente para os adeptos portugueses do modelo, esta versão que só existia nas carroçarias sedan de quatro portas e coupé, nunca foi oficialmente comercializada em Portugal. 

No entanto, o Entreposto Comercial vendia, em alternativa, o kit que permitia evoluir o motor para a versão GX. Este era composto por uma cabeça diferente, com janelas de admissão bem maiores e de desenho oval, câmaras de combustão com um relevo em formato “coração”, melhor arrefecimento e um canal extra de lubrificação. Com esta cabeça era usada também uma árvore de cames com mais cruzamento. 

As válvulas do motor A12 GX eram também mais robustas que as do A12 normal. A acompanhar esta cabeça era vendidaa admissão do GX, constituída por dois carburadores Hitachi HJE38W (tipo SU), ligados ao motor por um colector específico, com maior diâmetro interno e com formato 4-2-1.

 GX rapidamente se tornou a arma preferencial para alguns pilotos das categorias de baixa cilindrada e isso motivou alguns preparadores independentes, como a Nismo, a desenvolver evoluções. Em 1972 é a própria Datsun que lança o 1200 GX-5 que, como o nome indica, usava caixa de cinco velocidades, com a primeira para trás. 

A relação final era directa, tal como acontecia com a caixa de quatro, pelo que o condutor passava a dispor de mais uma relação para explorar a performance, diminuindo o fosso em cada passagem. Ao longo dos curtos quatro anos de comercialização, o Datsun 1200 conseguiu tornar-se um dos automóveis mais populares em Portugal, pela diversidade de argumentos: para o chefe de família, era um modelo versátil e robusto, barato de manter e fácil de guiar; para o condutor mais afoito, era um carro ágil e um dos mais rápidos do seu segmento, com um comportamento equilibrado e intuitivo; para um piloto era uma máquina com potencial de evolução, sem problemas de fiabilidade e com a qual se podia ir para o trabalho na segunda-feira seguinte, se tudo corresse bem...