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A função do “chauffeur”? Dar calor!

Todos conhecemos a palavra como um sinónimo de "motorista". Mas porquê o uso da palavra "chauffeur" e qual a etimologia? A resposta está na técnica.

Fotos:
Arquivo Regional da Madeira / Museu Photographia Vicente (imagens presentes no livro “O primeiro automóvel na Madeira” de Eduardo Jesus)


Ter um “chauffeur”, é um sinal de luxo ou uma consequência do poder. Para muitos (menos os que estão a ler isto, por razões óbvias), é uma ambição. Mas tempos houve em que, ter um “chauffer”, era somente uma necessidade imperiosa.

O “chauffer” era essencial para andar de automóvel mesmo que, em muitos casos, nem sequer o conduzisse.

Como assim? Um “chauffeur” não é um motorista? É e não é…

No tempos dos automóveis hoje classificados como “pioneiros”, não havia aquilo a que hoje chamamos “velas de ignição”, nem sequer o carburador tal como o conhecemos, capaz de emitir o “spray” de mistura.

Os motores dessa época, eram alimentados por um carburador de “superfície”, em que o combustível era aquecido no reservatório até formar vapor, gerando uma mistura de ar e combustível que seria sugada para o motor.

Depois do motor em marcha, os gases de escape eram usados para manter o combustível em constante vaporização, mas no momento inicial, era necessário pré-aquecer o reservatório através de uma lamparina de álcool.

Mas a ausência da vela de ignição ou sequer de um sistema eléctrico, tornava o processo de ignição bastante complexo. O sistema primordial, inventado e patenteado por Gottlieb Daimler em 1883 (a pensar nos motores a gás), consistia na inflamação do combustível através de um “tubo quente”. Tratava-se de um tubo de platina que tinha de ser aquecido até que a sua ponta ficasse em brasa. Para isso era necessário acender um pequeno fogo na fornalha ao lado do motor, onde dois queimadores do tipo “bunsen” aquecem o referido tubo de platina.

Ora, essa função de aquecer – em francês “chauffer” -, por ser delicada e suja, era atribuída a um empregado, vulgarmente denominado “chauffeur”, ou seja, “aquele que faz aquecer”.

Claro está que a função de tal pessoa não se limitava a iniciar a ignição, pois, por norma, era alguém que assistia ao condutor em todos os momentos necessários, sendo simultaneamente um mecânico de serviço. Alguém capaz de evitar que o automóvel ficasse parado com uma avaria em qualquer lado.

Dada a baixa velocidade e a curta lotação dos automóveis de então, era comum o "chauffeur" acompanhar o automóvel a pé...
Muitas vezes era também ele quem alertava a população da aproximação de um automóvel, o que o obrigava a correr à frente deste. Uma profissão bem mais exigente do que conduzir um automóvel com chapéu de pala e luva branca.