Há pilotos que, não sendo exactamente os mais competitivos do seu momento, se revelam determinantes para o decurso da história e para as suas equipas. Esse é o caso de Jean-Pierre Jabouille.

Nascido em Paris durante o período de ocupação Nazi, acabaria por formar-se em engenharia mecânica e esse detalhe seria fundamental para a sua carreira.
Numa época em que as equipas eram menos estruturadas e que o desenvolvimento de um máquina dependia mais de humanos do que de feedback informatizado, entender a mecânica e saber traduzir as sensações de condução aos técnicos, era uma enorme vantagem competitiva.

Por essa razão, Jabouille foi uma peça central no desenvolvimento da tecnologia turbo no universo da competição, algo que aconteceu primeiramente pelas mãos da Renault, tanto na Fórmula 1, como nos sport-protótipos e endurance.
O trabalho do Jabouille foi compensado com o feito de ter sido o primeiro vencedor de um Grande Prémio aos comandos de um carro turbo-comprimido, a 1 de Julho de 1979.
A celebração, aos 76 anos
Em 2019, com o pretexto de comemorar os 40 anos da sua primeira vitória na F1, a Renault reuniu, ao longo de uma semana, jornalistas de todo o mundo – entre os quais tive a felicidade de me incluir – e alguns dos maiores símbolos da saga Turbo.


Entre eles, os mais relevantes modelos sobre-alimentados do museu da marca, incluindo várias máquinas de competição e dois dos maiores heróis desta página da história: Jean-Pierre Jabouille e Jean Ragnotti, pilotos que se tornaram lendas da F1 e dos ralis, aos comandos dos Renault Turbo.
No circuito de La Ferté Gaucher, tive o prazer de ouvir Jean-Pierre Jabouille recordar aquela época.
“Houve momentos em que achei que não íamos conseguir. Éramos alvo de piadas fáceis no paddock, mas quando os resultados chegaram, a satisfação foi enorme e foi um dos momentos altos da minha carreira.”
Recordava assim o caminho que o levou até ao dia da primeira vitória da Renault e a primeira de um motor turbo, na F1, forçando todos os rivais a seguir o rumo da sobre-alimentação. Um sucesso no qual teve especial responsabilidade.
O momento emotivo
Esta celebração não estaria completa se o piloto não fosse reunido com o lendário Fórmula.
Depois de distribuídos os úteis tampões para os ouvidos, reunimo-nos à volta do RS01 na box e esperamos pelo momento.
Sempre com pose e figura elegante, Jabouille vestiu o imaculado fato branco e amarelo e sentou-se, de semblante focado, no cockpit do bem conservado Renault-Elf e pôs o motor em marcha, para depois nos presentear com algumas voltas de demonstração à pista.



Uma visão incrível para quem aprecia história do desporto automóvel, apesar do ritmo moderado que o pequeno circuito impunha e a que a idade do piloto permitia.
No final, saía do monolugar brindado por uma salva de palmas de todos os presentes e agradecia dizendo que não tinha feito “nada de especial”, porque o RS01 era fisicamente demasiado exigente para os seus 76 anos.



“Nada de especial” pode parecer o currículo, que teve como pontos altos as duas vitórias em Grandes Prémios com a Renault e três pódios à geral em Le Mans, em 1973 com a Matra e em 1991 e 1992 com a Peugeot.
Mas a longevidade da carreira e o contributo que teve na evolução tecnológica, tornaram o seu nome respeitado e incontornável.
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