Fomos conhecer o Mercedes-AMG One
O Mercedes-AMG ONE, hiperdesportivo de 3 milhões de euros (mais impostos) do qual serão produzidas apenas 275 unidades para todo o mundo, é um automóvel muito especial e a Sociedade Comercial C. Santos mostrou-o a jornalistas num evento privado realizado no showroom da empresa na Maia, junto ao Aeroporto do Porto.
O hipercarro foi apresentado pela primeira vez em 2017 e foi só no início de 2023, mais de cinco anos após o anúncio oficial no Salão Automóvel de Frankfurt, que a primeira unidade saiu da linha de montagem. Dado o carácter artesanal deste autêntico Fórmula 1 de estrada, os restantes exemplares têm sido entregues de forma espaçada.
“A Sociedade Comercial C. Santos ser o único concessionário português a comercializar um automóvel raro como o Mercedes-AMG ONE e, agora, ser o único representante da marca a mostrar o modelo em Portugal é motivo de natural orgulho e é mais um marco no percurso da empresa que, em 2026, assinalará 80 anos de história com muitos momentos marcantes”, afirma o administrador-delegado da Sociedade Comercial C. Santos, Pinho da Costa.
“Fórmula 1” de estrada
O Mercedes-AMG ONE é, de facto, um modelo único e que replica a tecnologia de um Fórmula 1 (baseia-se no monolugar de 2015 da Mercedes-AMG PETRONAS F1 Team) num automóvel que cumpre os requisitos legais para homologação para circular em estradas públicas.
Com um motor de combustão V6 turbo de 1.6 litros e quatro motores elétricos, a cadeia cinemática híbrida E PERFORMANCE é construída pelos especialistas do desporto automóvel da Mercedes-AMG High Performance Powertrains em Brixworth (Reino Unido), que também são responsáveis pelo desenvolvimento e produção das unidades de propulsão dos monolugares da equipa Mercedes AMG Petronas F1. A montagem de todo o veículo será realizada em Coventry (também no Reino Unido).
Este hiperdesportivo produz uma potência total de 1063 cv (782 Kw) e tem transmissão manual automatizada de sete velocidades com embraiagem de corrida de carbono de 4 discos. O motor a combustão, montado em posição central traseira, debita 574 cv às 9000 rpm, mas tem o seu limitador apenas às 11 000 rpm. Os quatro motores elétricos somam 450 kW (611 cv). Um está montado na cambota, outro está integrado no turbocompressor e os restantes dois encontram-se no eixo dianteiro.
Com esta unidade motriz, o Mercedes-AMG ONE atinge uma velocidade máxima limitada eletronicamente de 352 km/h. Com uma aceleração 0-100 km/h em 2,9 segundos, 0-200 km/h em 7 segundos ou 0-300 km/h em 15,6 segundos, este “monstro” redefine a ideia de condução e o trabalho conjunto de todos os seus motores funciona tal como na Fórmula 1.
Uma visão crítica
Para nós, que apreciamos a pureza mecânica e defendemos que todos os automóveis de colecção, por mais valiosos que sejam, devem ser usados o mais possível, é difícil esta geração de hipercarros ultra-complexos.
É provável que qualquer automóvel com tecnologia de F1, que inclui sistemas híbridos, suspensões e aerodinâmica activas e tanto mais, esteja condenado a não ser utilizado e a perder o encanto com a inevitável obsolescência de todas as tecnologias.
O espectro de situações em que um automóvel como o AMG One pode ser utilizado, é muito estreito. E se, por um lado, é um automóvel demasiado complexo e rápido para se poder explorar o seu potencial na estrada, por outro, é demasiado caro e precioso para que algum proprietário venha a usufruir dele na estrada.
Isto já sem entrar na discussão dos valores, pois pelos três milhões de euros, é possível adquirir um automóvel de competição, antigo ou recente, com uma história de competição invejável e, num objecto de utilização limitada, o seu significado e a sua história, são sempre o maior encanto.
Uma visão de entusiasta
No entanto, o fascínio dos automóveis desportivos está, em grande parte, na audácia, no arrojo técnico, na vanguarda em saltos evolutivos. E tendo isso em conta, qualquer entusiasta que não fique deslumbrado com os detalhes do Mercedes-AMG One, terá de questionar a sua própria paixão.
Tudo começa nos materiais. Apesar dos quase 1800kg de peso total, a fibra de carbono é dominante no interior e exterior do One. Mas o que impressiona é a qualidade do acabamento. A construção dos braços da suspensão inboard é autêntica joalharia, assim como as jantes, com cobertura aerodinâmica para menor turbulência e aumento da performance dos gigantescos discos de travão em carbono.
O habitáculo contém os dois assentos fixos, com os pedais e coluna de direcção a adaptarem-se ao condutor, garantindo assim que o peso deste fica na posição ideal. O completo volante, contém a maioria dos controlos necessários para percorrer as funções nos ecrãs e é, ele próprio, uma peça fantástica, com uma qualidade de acabamento tal, que apetece levá-lo para casa.
Há ainda o aspecto da aerodinâmica activa que, além de cumprir a sua função, acrescenta alguma teatralidade ao automóvel. Quando activada posição “high downforce”, a suspensão desce, a asa dupla sobe para a posição mais elevada e, sobre os guarda-lamas dianteiros, levantam-se umas aletas que não só produzem pressão aerodinâmica sobre o eixo dianteiro, como permitem um melhor escoamento do calor das rodas. É um detalhe que faz quase lembrar umas guelras, num automóvel que, em circunstâncias normais, já tem “cara” de tubarão. O One é um dos mais imponentes e impressionantes hipercarros da actualidade, como já tínhamos percebido no salão Retromobile
Como um F1, até nos defeitos
Como é sabido, o motor do AMG-One é o mesmo do monolugar de Lewis Hamilton de 2015, com boa parte da potência a ter origem nos motores eléctricos. É, por isso, mais um modelo a tentar o desígnio do “F1 para a estrada”.
Isso implica também ecoar alguns dos defeitos dos F1 modernos, nomeadamente uma sonoridade algo agressiva e não muito sedutora, como pudemos experimentar, quando o especialista de produto da Sociedade Comercial C. Santos colocou o motor em marcha e deu dois ou três toques no acelerador.
Continua a ser mais fascinante do que um hipercarro eléctrico, mas está longe de ser melodioso.
Próxima paragem: “o salão ecológico”
Porque o Mercedes AMG-One é, para todos os efeitos, um híbrido plug-in, com uma autonomia eléctrica de 18km, marcará presença no espaço da Sociedade Comercial C. Santos no Salão do Automóvel Híbrido e Eléctrico, na Alfândega do Porto, de 16 a 18 de Outubro.