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Injustiçados: Simca 1100

Num percurso condicionado pela gestão, a Simca fez modelos de excepção, como o Simca 1100.

Houve um tempo em que o panorama da indústria era feito de uma imensidão de construtores independentes, cada um com as suas próprias filosofias de produto, numa dinâmica quase experimentalista que dava origem a estrondosos fracassos, mas também modelos muito originais que iam encontrando o seu nicho. Contudo, em meados dos anos 60, a situação começou a ficar mais séria. Os pequenos construtores começavam a ter dificuldade em encontrar mercado e a ter dificuldades de subsistência. Três factores contribuíram para esse fenómeno: a tecnologia – tanto a que era incluída nos automóveis como a que era usada no processo de fabrico – começava a ser determinante para o sucesso dos modelos e o seu custo implicava um volume de vendas considerável; a qualidade de construção era um aspecto cada vez mais valorizado pelos consumidores e esse era o ponto fracos dos pequenos fabricantes; por último, após o surgimento dos modelos de transmissão dianteira e motor transversal, dava-se uma tendência para a uniformização dos modelos de gama baixa e média.

Apesar dos destinos da empresa terem andado “de mão em mão” durante décadas, os anos 60 foram bons para a marca. Por esta altura, a Simca estava na posição insólita de ver o seu capital dividido por três gigantes: a Fiat detinha a maioria do capital, seguida da Ford e da Chrysler Europe. Esta última, começou a reforçar a sua posição, adquirindo quotas à Ford e à Fiat, até ter o controlo total da empresa. Nos modelos então em produção, o 1000 e o 1300/1500, notava-se a influência Fiat. Particularmente no primeiro, que assentava na velha fórmula “tudo atrás”. Em gestação, estava já o Simca 1100, chamado internamente de “projecto 928”. Desde o início que as premissas essenciais estavam definidas: o novo modelo seria um carro de transmissão dianteira, de dois volumes e com várias opções de carroçaria.
Por esta altura, os únicos familiares compactos de transmissão dianteira no mercado eram o Renault 4, o Austin 1100/1300 e o Autobianchi Primula, precursor do Fiat 128. A Simca testou soluções diferentes, nomeadamente um formato de motor longitudinal, à semelhança do utilizado pelo Renault 12, mas acabaria por optar pela orientação transversal. No final, o 1100 acabou por ir um pouco mais longe do que qualquer concorrente, ao oferecer uma carroçaria de três ou cinco portas, com um espaço de carga extraordinário graças aos assentos rebatíveis, suspensão independente, travões de disco e um motor de árvore de cames à cabeça. O único concorrente tão evoluído tecnicamente era o Peugeot, que só estava disponível em formato sedan ou break. Se houvesse dúvidas acerca das qualidades do Simca 1100, bastaria analisar os número de vendas: 2.2 milhões de unidades em oito anos. Mais relevante ainda, foi o facto da Volkswagen ter admitido que o Simca foi uma grande fonte de inspiração durante o desenvolvimento do incontornável Golf.
Hoje, a cotação do modelo permanece abaixo dos 5000€ em condições perfeitas, ou um pouco mais no caso de se tratar da versão Ti, com o motor alimentado por dois Weber duplos e com uma potência de 82cv. É já muito raro encontrar um 1100 em circulação, ou mesmo em eventos de clássicos, apesar das suas qualidades e do papel importante na história dos familiares compactos. Pode não ser o mais belo dos carros, mas nem isso justifica a injustiça do esquecimento.
Se conhece algum exemplar que ainda vá a tempo de ser salvo, vale a pena saber que há em França clubes e grupos de entusiastas que podem ser úteis e até mesmo um Clube Simca e Rootes de Portugal.

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