Ciccio Liberto, o sapateiro da F1
Fotos: Ciccioshoes.it
“Não me recordem com tristeza. Saibam que sou um homem feliz, porque cumpri o meu sonho: fazer parte do mundo da competição automóvel, aquele que eu sempre amei. Pude conhecer e fazer amizade com tantos pilotos, ser fornecedor da Scuderia Ferrari e até atingir alguma notoriedade internacional”.
Foram estas as palavras de Ciccio Liberto – mais conhecido por Ciccio de Cefalù – quando fechou pela última vez a sua loja em Janeiro de 2022, já a enfrentar a doença de Parkinson que o levaria.
Ciccio é uma figura muito mais relevante para o desporto automóvel do que seria de esperar de um simples sapateiro da Sicília. Ele foi, afinal, o inventor das botas e sapatos de condução, algo que não existia antes.
Foi em 1967 que Ignazio Giunti, piloto da Alfa Romeo, visitou a sapataria de Ciccio antes do início de mais um Targa Florio, pedindo-lhe que produzisse um calçado que fosse confortável para pilotar, sem perder a necessária sensibilidade.
Sendo apaixonado pelo desporto automóvel, Ciccio sabia exactamente o que era preciso e criou um botim com sola de ouro muito fina e larga, com longos atacadores para um ajuste perfeito e fabricado em pele fina. Eram feitos com o cuidado e a sensibilidade de umas luvas de condução.
Giunti estreou-os no Alfa Romeo 33 que pilotou no Targa Florio e adorou. O passa-palavra levou Ciccio a equipar todos os pilotos Alfa Romeo, depois a Ferrari, e depois muitos mais, numa longa lista que inclui nomes como Ickx, Reutemann, Fittipaldi, Regazzoni, Arnoux, Merzario, Lauda, Nanni Galli, Geki Russo, Vaccarella e Vic Elford.
Homenageado por marcas e revistas, visitado por jornalistas de todo o mundo e pilotos da actualidade como Vettel, tornou-se uma celebridade por mérito próprio e parte da história do automobilismo.