101 anos da fábrica de Lingotto
Foto: DGT Media Simone, Jean-Pierre Dalbéra, “Atlas of Places”, Stefano Mitta, Angelo Luisi Montenegro, NH Lingotto, Pinacoteca Agnelli
O projecto data de 1915 e é da autoria do Engenheiro Giacomo Mattè-Trucco. As obras arrancaram logo no ano seguinte e o tempo de construção pode considerar-se rápido para a época e complexidade do empreendimento. O complexo é formado pela fábrica, um edifício de escritórios, localizado a nordeste e um centro de triagem, localizado na parte sul.
O imponente edifício industrial tem cinco andares e é sustentado por uma estrutura de betão armado com pilares espaçados a cada seis metros. A construção é formada por dois blocos ligados por cinco elementos transversais ,que possibilitam tanto a circulação horizontal como vertical. A distribuição desses blocos de ligação forma três pátios internos descobertos.
No topo da fábrica, está o elemento que a tornou um local de culto e foco do fascínio de tantos entusiastas: a pista de testes oval. A pista tem quase um quilómetro de perímetro, graças às duas grandes rectas, ligadas por parabólica ovais nas extremidades. A toda a volta existe um muro de 1,5 metros de altura, mais elevado nas extremidades, por questões de segurança.
Os automóveis ali fabricados seguiam o percurso de produção ascendente através de rampas helicoidais que conectavam os pavimentos distribuídos nos 27 metros de altura da fábrica. Estas rampas, pelo seu desenho e estrutura de grande beleza arquitectónica, acabaram por se tornar, a par da pista, noutro ícone do mundo automóvel.
Esta arquitectura definida em função do ciclo de produção era inspirada no caso da Ford, mas aqui com o benefício extra de permitir que, à saída da produção, os automóveis pudessem ser testados logo ali, no topo do edifício.
A fábrica de Lingotto foi considerada a “primeira invenção construtiva futurista” no livro “Manifesto Futurista dell’Architettura Aerea” de Filippo Tommaso Marinetti, Angiolo Mazzoni e Mino Somenzi, publicado em 1935.
O futurismo – movimento que começou no campo das artes – assim como o racionalismo, foram bem recebidos pelo governo, tornando-se símbolos de uma Itália fascista. A fábrica de Lingotto foi mesmo palco de discursos de Mussolini, com especial destaque para a enchente de público na celebração dos dez anos do regime fascista.
O grande arquitecto Le Corbusier, também visitou a fábrica e experimentou pessoalmente a pista de testes em 1934. Classificou a fábrica como um dos edifícios mais impressionantes da indústria. Mesmo antes de visitar o complexo, o arquitecto já tinha elogiado as formas, a simplicidade, ordem e tensão de linhas na revista “L’Espirit Nouveau”.
No ano de 1939, a produção em Lingotto foi interrompida devido ao início da II Guerra Mundial. Nessa altura, o edifício se tornou-se um ponto estratégico para o exército italiano.
Embora os escritórios permanecessem em utilização, o edifício industrial cessou funções em 1982, com a produção quase toda centralizada em Mirafiori. O último automóvel produzido em Lingotto foi um Lancia Delta.
Em 1984 foi realizado um concurso de ideias para novas funções para o edifício e, em 1985, a Fiat contratou o arquitecto Renzo Piano para o projecto de renovação e transformação.
Foram implementadas novas funções no edifício como, por exemplo, centro comercial, hotel, auditório, cinema, anfiteatro e uma escola de engenharia automobilística. Além da reestruturação do antigo edifício, o arquitecto realizou intervenções na cobertura, nomeadamente uma sala de reuniões esférica em aço e vidro e um heliporto de apoio. Também na cobertura está a Pinacoteca Giovanni e Marella Agnelli, que alberga a colecção reunida pelo casal e que inclui obras de grandes artistas de diferentes gerações, de Michelangelo a Matisse.
O edifício é visita obrigatória para qualquer entusiasta, embora o acesso à pista pelos visitantes fosse, até há pouco tempo, muito limitado.
Na celebração dos 100 anos da fábrica, Olivier François, CEO da Fiat, anunciou que a arquitectura de Lingotto iria servir de inspiração para o design de futuros modelo da marca. Com efeito, os conjuntos ópticos no novo Grande Panda, são inspirados nas janelas do edifício.