Marcas de nicho mantêm combustão no Reino Unido
Os entusiastas britânicos e, especialmente, os líderes das marcas de baixo volume, animaram-se com a notícia trazida a público pelo próprio Primeiro-Ministro esta semana.
Na sequência da guerra tarifária dos Estados Unidos contra o resto do mundo, e tendo em conta a situação frágil da indústria automóvel europeia, o Governo Britânico liderado por Keir Starmer anunciou um pacote de medidas que pretende estimular a indústria e o comércio domésticos, aliviando, sobretudo, as medidas que visam a chamada “transição energética” e que tanto têm prejudicado os construtores.
No meio de uma quantidade de directivas que incluem o prolongamento da vida dos modelos híbridos e uma redução das multas impostas aos construtores que vendem automóveis que não cumprem com os limites de emissões estabelecidos, vem uma medida dedicada exclusivamente aos construtores que se dedicam à produção de modelos de nicho, sejam eles estes desportivos ou de luxo.
Recorde-se que o Reino Unido decidiu inicialmente impor uma meta ainda mais ambiciosa (ou ainda mais irrealista) que a da UE, fixando o fim da venda de todos os veículos de combustão e híbridos até 2030.
Números anunciados são insuficientes
Contudo, os números anunciados não estão a deixar estes construtores e os seus clientes muito optimistas. Resumidamente, esta medida permitirá a continuidade da produção de motores de combustão indefinidamente, apenas a construtores que não vendam mais de 2500 unidades ao ano.
Basta olhar para os números das principais marcas inglesas para perceber que o problema se irá manter. Em 2024 a Aston Martin vendeu 6000 exemplares, a Bentley 10000 e meso a McLaren chegou perto dos 3000. De entre as marcas mais conhecidas, só a Caterham e a Morgan ficam abaixo da meta anunciada.
Resta a dúvida sobre o porquê da fixação deste limite, se por incompreensão do seu impacto, se por pressão de entidades ligadas à chamada "transição energética", o que tornaria esta medida numa hipocrisia.
Porquê a mudança de atitude?
Há diferentes formas de olhar para esta medida. Por um lado, ela significa que há finalmente políticos a entender que o uso automóveis destinados a entusiastas, tem um impacto praticamente nulo nas metas ecológicas, seja pelos números baixos de vendas, seja pelo pouco uso que estes veículos têm.
Significa também que estes políticos entendem que, apesar disso, este sector é de grande importância para a economia e que estas empresas precisam de um tratamento diferenciado, ou grande parte da indústria britânica colapsa.
Por outro lado, o irrealismo do número máximo fixado, leva os mais cépticos a acreditar que pode não ser mais do que uma medida eleitoralista.
O que isto significa para nós?
Infelizmente, a UE está a agora num ponto pior do que o Reino Unido. Por cá, continua a não haver a consciência de que o segmento dos automóveis coleccionáveis representa muita criação de riqueza.
No entanto, é sabido que certas medidas têm um efeito de contágio quando, como é o caso, são pertinentes e ponderadas. Por isso, é agora possível sonhar que a UE decida libertar os construtores de restrições desnecessárias e decida deixar de se substituir ao consumidor no que toca ao processo de escolha.
A sobrevivência dos clássicos do futuro
No momento que vivemos, começam a ser poucos os modelos novos que poderão ser considerados coleccionáveis no futuro. A "fonte" dos automóveis destinados a entusiastas está praticamente seca. Um jovem condutor que goste, por exemplo, de um desportivo compacto, é obrigado a olhar para o passado, estudar o tema e adquirir um bom veículo usado, eventualmente com dez ou 20 anos. Isso, infelizmente, não deverá mudar.
No entanto, no segmento dos desportivos mais exóticos - mesmo aqueles menos estratosféricos como Alpine, Lotus, Caterham, entre outros - ainda pode ser salvo por uma medida que reconheça que o impacto destes modelos no ambiente é irrelevante.
Só assim se poderá continuar a acrescentar modelos interessantes à oferta actual, o que é determinante para o sector. Isto porque universo de automóveis apelativos não tem crescido, ao contrário da procura.
Se é certo que o tempo dos desportivos baratos tem os dias contados, a implementação de medidas deste género terá a virtude de, pelo menos, limitar o encarecimento dos clássicos existentes e permitir que continuem a ser produzidos aqueles modelos que nos fazem sonhar.