Colecção do Sultão do Brunei revelada
É talvez a mais famosa colecção do mundo e seguramente a maior de todas elas. A colecção do Sultão Hannanal Bolkiah é o resultado de décadas a comprar automóveis, com a ajuda do seu irmão Jefri Bolkiah (conhecido como Príncipe Jefri) e do seu filho. No total, entre os dois, estima-se que cheguem aos 7000 automóveis, sendo que 5000 pertencerão directamente ao Sultão.
Apesar disso, o conteúdo da colecção tem vindo a ser mantido no maior secretismo possível, pois poucas são as pessoas autorizadas a visitá-la e a divulgação de imagens é controlada ao máximo.
Esta semana, um pessoa de identidade desconhecida, “despejou” na internet centenas de fotos tiradas há quase 30 anos, a vários dos mais interessantes automóveis da colecção
Como se explica?
A fortuna que torna possível esta obscena excentricidade, explica-se pelo poder absoluto do Sultão e sua família no controlo de um país que é riquíssimo em petróleo.
Contudo, em 1997 o Príncipe Jefri, terá sido obrigado a uma negociação com a coroa para restituir quase 15 milhões de euros em de dinheiros que terá desviado do negócio de exploração petrolífera, o que explica que vários automóveis tenham sido vendidos para a Europa.
Esporadicamente, são vendidos automóveis da colecção em venda particular e por convite.
Automóveis raros, únicos ou personalizados
Na colecção do Sultão, praticamente não se encontra um modelo “normal” . Quase todos os automóveis, independentemente da sua raridade, estão personalizados de formas discutíveis ou bizarras.
A Pininfarina, possui um departamento denominado “Pininfarina Prototype Manager", que ao longo de anos dedicou boa parte da sua actividade ao desenvolvimento de modelos únicos para satisfazer pedidos do Sultão, ao ponto do seu ex-líder, Paolo Garella, ter assumido numa entrevista que, a dada altura, a sobrevivência da Pininfarina deveu-se à sua colecção.
Vamos lá ver alguns...
É difícil saber por onde começar, uma vez que a colecção vai a todas as marcas e a todo o tipo de automóveis mas, para começar, talvez não seja mau escolher um típico automóvel de Sultão: uma limusine. Sendo certa que esta não é uma qualquer
Presidentes, ditadores e malfeitores, sempre tiveram uma perdição pelo Mercedes-Benz W100 e o Sultão do Brunei não é excepção. Só que o dele tem a pequena particularidade de ter sido totalmente transformado pela AMG, com interiores modernos, pára-choques modernos e… um motor V12.
Para que se consiga ilustrar o nível de bizzaria e contrastes da colecção, no extremos oposto ao W100, encontra-se modelos como este Fiat Cinquecento Sport transformado em algo entre um descapotável e uma pickup.
Dito isto, é claro que as preferências do Sultão vão para os grandes automóveis de luxo, especialmente os que ainda não existem. Por isso, nas suas garagens é possível encontrar versões nunca vistas de Rolls-Royce e Bentley, como é o caso da carrinha Bentley "Big Mac" com interior vermelho e amarelo, ou do SUV Bentley Dominator, do qual existem apenas os exemplares presentes na colecção.
Para que se perceba o nível de aborrecimento que vitima o Sultão do Brunei, vale a pena mencionar que ele é proprietário de várias centenas de Bentley dos anos 80 e 90, todos inexplicavelmente muito semelhantes.
No entanto, de vez em quando "esmera-se" e cria algo especial, como os vários exemplares do Coupé Cabriolet que baptizou como 3 Position Convertible e que tem uma carroçaria exclusiva, ou o Turbo R sedan que parece normal até se ver que a madeira do interior foi revestida a fotografias do próprio e da família.
No entanto, o ego consegue ir mais longe, especialmente quanto temperado com alguma infantilidade e muito dinheiro, como no caso deste Mercedes-Benz "Batmobile" com carroçaria em fibra de carbono...
Mas não vamos comparar o Sultão ao Batman, porque se há algo que os distingue são os super-poderes. Batman não tem nenhum, mas o Sultão tem visão nocturna. Isso mesmo! Pelo menos quando conduz o seu 456 GT personalizado e equipado com um complexo sistema militar de visão nocturna, que permite ver a estrada através dos vários ecrãs no habitáculo. Porquê? Então, porque não?
E já que estamos a falar disso, nenhum texto acerca do Sultão estaria completo sem os seus já conhecidos e estranhos 456 berlina, descapotável e estate, com vários exemplares de cada em cores diferentes, para combater a monotonia. No total, o monarca terá uns 30 exemplares do 456 GT em diversas formas e cores.
Os modelos Ferrari produzidos exclusivamente para Hassanal Bolkiah Muiz'zaddin Wad'daulah são vários e, entre eles, está o Ferrari FX, uma criação baseada no 512TR e 512M, com um desenho específico mas não só...
Para algumas destas máquinas especiais, o Sultão decidiu encomendar uma caixa de velocidades com comando por patilhas, muitos anos antes de existir a caixa F1 dos 355. Para que isso fosse possível foi preciso adaptar efectivamente soluções oriundas dos modelos de Fórmula 1.
Não fica barato, com certeza, mas quando se sabe o que se quer e no mercado não há...
Outra criação que não se vê noutro sítio senão nesta colecção, é o (ou os) Ferrari F90, também eles baseados no Testarossa, com uma carroçaria específica.
Nesta época, o Sultão terá ficado fascinado pelo concept Mythos, da Pininfarina e, como tal, ordenou que fossem produzidos alguns exemplares em cores diferentes para a sua colecção.
Quem muito beneficiava das excentricidades do líder absoluto do Brunei, era Gianni Agnelli. Isso explica que tenha autorizado a Pininfarina a colocar o logo Ferrari em todas estas criações. E também não terá ficado muito aborrecido com o facto do seu famoso Testarossa Spider ter deixado de ser único graças ao Sultão que, sempre indeciso quanto às cores, lá pediu meia dúzia de exemplares sortidos.
Claro que como bom coleccionador Ferrari, Hassanal não poderia deixar de ter um F40 ou dois. Ou então nove... Entre eles está um F40 LM em preto, com bancos de Testarrosa, à semelhança da maioria dos F40 da colecção. O Sultão não deve gostar muito de baquets e, por isso, o F40 verde, assim como o branco, tem bancos do 456 GT.
Não faria sentido ter nove F40 e não ter o antecessor, pelo que na garagem está também um GTO Evoluzione. Mas a acompanha-los estão os "vulgares" 288 GTO em diferentes cores, incluindo um em preto e outro em púrpura com interiores em azul.
Mas a história continua e, por isso, a colecção reuniu também alguns F50 em cores inéditas e até interiores inéditos, sem benefício aparente.
Não podem ficar de fora os rivais directos dos melhores Ferrari como, por exemplo, os Bugatti EB110, dos quais o Sultão adquiriu pelo menos três, todos da versão SS, mas o destaque vai para o mais psicadélico, com umas jantes e um habitáculo que fazem uma parada gay parecer um cortejo fúnebre.
E já que falamos em super-carros, falemos de Porsche. Uma marca que está representada na colecção com inúmeros 911, com várias versões de cada geração desde o 3.2 ao 993, mas que tem como seu mais alto representante o Porsche 959, com cerca de sete exemplares em cores diferentes.
O mesmo acontece com os XJ220, que são pelo menos seis. Estão acompanhados por dois XJR15, como seria de esperar.
Ainda na temática dos super-carros, não poderia faltar a McLaren com os F1. Porque obviamente, é difícil escolher o mais bonito, a colecção conta com a versão de estrada em cores diferentes (um deles, estranhamente autografado por Michael Schumacher), mas também com os F1 GTR e LM, as versões usadas em competição, nomeadamente em Le Mans.
E por falar em Le Mans, poucos automóveis foram tão dominadores em Le Mans como o Porsche 962, do qual a Dauer produziu uma versão de estrada. É um automóvel extremamente raro, por isso, o Sultão só tem... seis.
E por falar em raro, algures num canto da garagem está, em estado decrépito, coberto de sujidade por fora e por dentro, um verdadeiro unicórnio: um Italdesign Nazca, com motor BMW V12.
Mas claro que há muito mais: Toyota Supra, Nissan Skyline R32, Toyota RAV4, Range Rover, Mini Turbo, vários Lamborghini Countach, Aston Martin de todo o género, vestidos por carroçadores, incluindo os Virage de quatro portas ou mesmo em formato station wagon.
Este era o cenário da garage no início dos anos 90. No entretanto, alguns destes automóveis saíram da colecção e apareceram no mercado, mas muitos outros terão entrado, especialmente nesta fase em que é lançado um super-carro todas as semanas.
Quantos mais anos passam, mais valiosa fica esta colecção e mais surpreende que ainda possa existir um regime absolutista capaz de esfregar na cara do seu povo as provas de um total abuso de poder e de desrespeito.
Mesmo para nós, que vivemos num eterno romance com o automóvel, é impossível não olhar para esta colecção e não pensar, sobretudo, no que ela significa em termos de repressão e prepotência.