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Bugatti T59 é Best of Show em Pebble Beach

Pela primeira vez em 73 anos de história, o troféu é arrecadado por um automóvel sem restauro. Além de um sinal dos tempos, é mérito de uma história única.
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19 de ago. de 2024

Foto: Tim Scott, Copyright Fluid Images

Em 73 edições do concurso de Pebble Beach, o Best of Show foi atribuído 71 vezes a automóveis pré-guerra restaurados, uma vez (2014) a um automóvel pós-guerra e este ano, pela primeira vez, a um automóvel pré-guerra preservado, ou seja, sem restauro desde a sua transformação em 1937.

Esta vitória é, sem dúvida, um sinal dos tempos e de uma crescente valorização da originalidade em comparação com o restauro. Contudo, há que pesar o facto deste exemplar ter uma história absolutamente singular e de se apresentar numa condição extraordinária.

Este é o primeiro de apenas seis exemplares produzidos do Bugatti Type 59, um dos mais desejáveis modelos de competição da marca

Apresentado em 1933 no GP de San Sebastian, o T59 era uma clara resposta ao Alfa Romeo Tipo B, que então se superiorizava frequentemente aos rivais da Bugatti. Tal como os Bugatti de GP anteriores, o T59 usa um motor de oito cilindros em linha com compressor. Este modelo, ao contrário do T35, usava umas singulares jantes de raios em vez das de liga.

Muito baixo e com uma suspensão sofisticada para a época, o sucesso não se fez esperar. René Dreyfus levou-o à vitória  no Grande Prémio da Bélgica em Spa e terminou em terceiro nesse ano no Mónaco. No final da época, enfrentando uma forte concorrência e dificuldades financeiras, Ettore Bugatti decidiu abandonar as corridas de Grande Prémio.

Enquanto quatro dos Type 59 foram vendidos a entusiastas ingleses, o primeiro foi mantido pela Bugatti e convertido de modelo de GP para "sportscar". Bugatti removeu o compressor, criou uma nova carroçaria guarda-lamas de moto, um único ecrã "aeroscreen", pequenos faróis, portas e cárter seco, assim como uma caixa de velocidades sincronizada com comando no solo e ao centro, em vez da típica alavanca "outboard". Neste processo, o número de chassis foi alterado para 57248.

Depois da transformação, o T59 continuou a competir, tendo alinhado no Grande Prémio da Argélia, pilotado por Jean-Pierre Wimille, que venceu. A última prova desta dupla de automóvel e piloto seria o GP de La Marne, no mítico circuito de Reims, vencendo uma vez mais, com três minutos de vantagem sobre o segundo classificado.

No final da temporada, o Rei Leopoldo III da Bélgica, cliente fiel da Bugatti, adquiriu o Type 59. Antes da entrega, o monarca encomendou uma nova pintura: o "azul França" daria lugar ao preto, com uma faixa dourada. Na realidade, a Bugatti sobrepôs a cor, pelo que hoje é possível ver o azul em alguns pontos da carroçaria.

Ninguém sabe realmente se o Rei chegou a usar o carro, mas é provável que este tenha sido guardado quando a guerra se aproximava. O Rei e a sua consorte, Liliane Baels, foram deportados para a Alemanha em junho de 1944.

No entanto, o Rei conseguiu manter este e outros automóveis da sua colecção e guardou-o até 1967, altura em que foi vendido a Stéphane Falise, um magnata belga de gosto refinado, que terá sido determinante para que o automóvel se mantivesse intocado.

Apaixonado pela originalidade, Falise manteve o T59 guardado durante 20 anos, sem o polir ou pintar e, provavelmente, também sem o conduzir.

Depois de vários proprietários que souberam respeitar a originalidade do exemplar, este acabaria por integrar a famosa "Pearl Collection", do entusiasta suíço Fritz Burkard, onde partilha espaço com vários Bugatti excepcionais, incluindo o mais recente Cientodieci.

Burkard encomendou um trabalho de preservação da patine deste automóvel e assume que o usa frequentemente e que a sua condução é fácil e prazerosa.

Ficou assim escrito um capítulo marcante na história de Pebble Beach e dos concursos de elegância, na generalidade.
 

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