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250Km do Estoril fecham época

Um conjunto de máquinas incrível fechou a época do Iberian Historic Endurance. O GT40 pilotado por Paulo Lima e e Ricardo Pereira foi o vencedor à geral.
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10 de dez. de 2025

A sessão de qualificação de sexta-feira deixou as primeiras indicações do que seria a corrida do programa do Estoril Endurance Festival. Os três Ford GT40 inscritos, ocuparam os três primeiros lugares, com os portugueses Paulo Lima e Ricardo Pereira a obterem o melhor registo, superando o duo britânico Alex Collins e Martin Stretton. na segunda linha colocou o Ford GT40 de Hipólito Pires, Tiago Raposo Magalhães e Diogo Tavares e o Shelby Cobra Daytona da HY Racing, o melhor não GTP & SC e melhor dos H-1965. A terceira linha ficou composta por dois dos mais fortes concorrentes da classe H-1976: Pedro Rezende, em Porsche 911 3.0 RS, que procurava a terceira vitória consecutiva nesta corrida, e o francês Jean-Jacques Renaut, em Porsche 911 2.8 RSR.

Dentro do espírito dos três 3C - “No Crashing, No Cheating, No Complaning” - que caracteriza a competição ibérica, a ambição de vencer esta “clássica” de resistência estava patente nos rostos dos pilotos e no esforço colocado pelos membros das equipas quando, ao início da tarde de sábado, os quarenta e cinco carros começaram a alinhar na grelha de partida para a tradicional partida ao “estilo Le Mans”, com os carros parqueados a 45 graus encostados no muro das boxes e os pilotos a alinharem-se no lado oposto da pista, correndo para o carro para dar início à volta de formação assim que agitada a bandeira de Portugal pelo director de corrida.

Os futuros vencedores arrancaram com autoridade, enquanto, logo atrás, Alex Collins e Pedro Rezende travavam um intenso duelo pelo segundo posto, definido aquando das primeiras dobragens, quando o piloto do Porsche preparado pela Aurora Motorsport ascendeu à segunda posição. Na dianteira, as equipas adoptavam estratégias distintas, ao passo que, ao longo do pelotão, a corrida oferecia múltiplos pontos de interesse, com frequentes trocas de posição nas diversas classes.

As duas primeiras posições da geral manter-se-iam inalteradas até às primeiras idas às boxes para as trocas de piloto e reabastecimentos iniciais. Foi então que Damien Kohler e José da Rocha subiram ao comando, pressionados de perto por Alex Collins. O Shelby Cobra assistido pela Classic Garage acabaria, contudo, por ser ultrapassado pelo Ford GT40 três voltas mais tarde, mas não permaneceria em segundo por muito tempo: outras três voltas volvidas, o duo luso-francês retomava a liderança, posição que apenas voltaria a perder quando a corrida atingiu a 27.ª volta.

Após cumpridas as paragens nas boxes e estabilizados os ritmos, Pedro Rezende emergiu como líder, com cinco segundos de vantagem sobre o Ford GT40 de Paulo Lima e Ricardo Pereira, vantagem essa que rapidamente começou a encolher. A troca de posições entre os dois primeiros consumou-se à 33.ª volta. Nesse momento, e nas voltas seguintes, o carro da oval azul parecia capaz de se isolar no comando; porém, dez voltas depois, a diferença entre ambos era inferior a dois segundos. À 44.ª volta, o duo do Ford GT40 realizou a sua última paragem, deixando o piloto do Porsche 911 3.0 RS na liderança por mais uma volta, antes de este também cumprir a derradeira passagem pelas boxes.

Na última dezena de voltas, o Ford GT40 preparado pela RP Motorsport saiu das boxes na frente e impôs um andamento fortíssimo, abrindo a margem necessária sobre o seu adversário directo e caminhando para o primeiro triunfo de Paulo Lima e Ricardo Pereira nos 250 km do Estoril by Powershield. 

Ao fim de cinquenta e oito voltas, Pedro Rezende, apesar de não dispor de argumentos para inverter o desfecho, viu a sua excelente exibição recompensada com um merecido triunfo na classe H-1976. Jean-Jacques Renaut, em Porsche 911 2.8 RSR, preparado pela Classic Garage, terminou em terceiro da geral e em segundo da classe H-1976, naquela que foi a sua estreia na corrida portuguesa. Bruno Duarte e Filipe Jesus, ao volante de um Porsche 911 3.0 RS, completaram o pódio da categoria.

Na categoria GTP & SC, Alex Collins e Martin Stretton, quartos classificados à geral, foram segundos da classe, enquanto Carlos Barbot e Filipe Vieira de Campos, em Merlyn MK4, asseguraram a terceira posição do pódio.

Com cerca de uma dezena e meia de inscritos, a classe H-1965 anunciava um dos duelos mais cativantes de todo o fim-de-semana, reunindo um conjunto de máquinas habituadas a triunfar em provas de clássicos, entre as quais se destacavam os Jaguar E Type, os  Lotus Elan, os Ford Mustang ou os Shelby Cobra. Brice Pineau e Oliver Muytjens garantiram a pole-position ao volante do seu Shelby Cobra Daytona, mas a corrida da dupla da HY Racing esteve longe de corresponder às expectativas: perderam duas voltas e acabaram por cruzar a meta no quarto lugar. 

A prova foi dominada com autoridade por Damien Kohler e José da Rocha, cujo Shelby Cobra chegou mesmo a ditar o passo no topo da tabela de tempos da corrida. Os quintos a receber a bandeira de xadrez na geral assumiram o comando do pelotão dos H-1965 ainda na primeira volta e só cederam a liderança durante sete voltas, para o regressado Shelby Mustang GT350 de Ernesto Silva Vieira e André Castro Pinheiro. Graças a uma gestão de corrida exemplar, esta dupla lusitana alcançou o terceiro posto final. Os dinamarqueses Thorkild Stamp e Michael Holden, no seu Porsche 904/6, rodaram sempre próximos da liderança, aguardando por uma oportunidade que não apareceu, mas a sua boa corrida permitiu-lhes terminar no segundo posto da classe H-1965. 

A corrida da categoria H-1971 foi igualmente interessante de seguir. O Alfa Romeo GTAm, que largou do lugar da pole-position, pelas mãos do alemão Henry Wegener, perdeu a primeira posição logo na volta inicial para o BMW 2800 CS muito bem conduzido pelos “expert” locais Luís Sousa Ribeiro e Ricardo Pereira. O carro germânico aguentou-se na frente por quatro voltas, quando foi suplantado pelo espectacular e mais rápido Chevrolet Corvette L88 de Pedro Bethencourth, Jorge Nogueira Pinto e Francisco Pinto Abreu. Quando o “monstro americano” desistiu, a dupla lusa regressou ao primeiro posto.

Discreto mas eficaz, Henry Wegener manteve sempre o seu Alfa Romeo no grupo da frente, deixando o turno final de condução para o jovem compatriota Finn Gehrsitz. O piloto da Lexus no mundial de resistência (WEC) na época que agora terminou aplicou um ritmo muito forte no final da contenda, ascendendo ao primeiro lugar a quinze voltas do fim, lançando-se assim para um triunfo justo para o duo da Fernandes Racing. Luís Sousa Ribeiro e Ricardo Pereira foram uns merecidos segundos classificado, ao passo que a dupla pai e filho Piero del Maso/Guilhermo del Maso foram os terceiros classificados, já com duas voltas atraso. Porém, a dupla do Porsche 911 2.5 ST preparado pela Garagem João Gomes tinha razões para sorrir, pois acabara de conquistar o “1000 km Trophy” da temporada de 2025 do Iberian Historic Endurance.

Noutro ponto da grelha de partida, a discussão pela vitória na categoria Gentlemen Driver Spirit (GDS) ficou clara logo na qualificação: tudo apontava para um confronto directo entre o MG B Roadster de Paul Rayment, em dupla com James Wheeler, e o Austin Mini Cooper S da Dorset Racing, conduzido pelos britânicos Ellie Birchenhough, Nick Topliss e Richard Parsons, autores do melhor tempo na sessão de treinos cronometrados. Neste duelo entre equipas britânicas, os experientes Paul Rayment e James Wheeler acabaram por impor a sua cadência, conquistando o triunfo com uma confortável volta de vantagem sobre o segundo classificado, Nuno Nunes, ao volante do seu Porsche 911 SWB. O pequeno, mas combativo, Austin Mini Cooper S completou o pódio da categoria.

A luta entre estes três carros foi intensíssima, com o Austin Mini a liderar as duas primeiras voltas, cedendo a primazia na terceira volta ao Porsche preparado pela Garagem João Gomes. Com as equipas a seguirem estratégias distintas, a Dorset Racing - uma formação que chegou a competir nas 24 Horas de Le Mans nos anos 1980 - recuperou a liderança nove voltas mais tarde. Profundo conhecedor do circuito e confiante na fiabilidade da sua máquina, Nuno Nunes voltou a assumir o comando à 27.ª volta. Contudo, nessa altura, a dupla do MG B Roadster já estava à espreita do primeiro lugar, posição que conquistou na 37ª passagem e que soube defender nas decisivas dez voltas finais.

Index de Performance:  Tourneur leva o seu Porsche 356 à vitória
A celebração dos 250 km do Estoril by Powershield ficou completa com a atribuição do prémio - um relógio exclusivo da Cuervos y Sobrinos - ao vencedor do Index de Performance, uma classificação especial que não se define pela ordem de chegada, mas sim pelo rendimento individual de cada viatura. 

Pelo segundo ano consecutivo, o vencedor foi o piloto francês Vincent Tourneur, aos comandos do seu carismático Porsche 356 Speedster. Para além de ser um carro icónico, trata-se de uma verdadeira obra-prima do património automóvel, datada de 1954, sendo ainda o primeiro modelo de competição para clientes alguma vez produzido pela Porsche.

O pódio do Index de Performance foi preenchido pelos britânicos Ellie Birchenhough, Nick Topliss e Richard Parsons, cujo Austin Mini Cooper S alcançou o segundo lugar, e pelo piloto brasileiro Fabiano Vivacqua Jr., com o Porsche 356 B d, que ocupou a terceira posição.