O “gémeo” do Lotus de Nené, está à venda
No início dos anos 70, o mundo da velocidade estava em alta em Portugal. Os circuitos urbanos enchiam de entusiastas até abarrotar, e o automobilismo era sempre um tema da ordem do dia.
Havia várias publicações dedicadas ao desporto automóvel, as provas eram faladas nos jornais e noticiários e os protagonistas eram reconhecidos na rua, como são hoje futebolistas ou pessoas que fizeram coisas muito importantes para a sociedade como, por exemplo, ter discussões acesas refastelados no sofá de um reality show.
Com tantas atenções havia entusiasmo em torno da modalidade, havia prémios de participação e patrocínios e porque havia patrocínios, havia automóveis de excepção. Entre Portugal e Angola, tivemos portugueses a competir com os melhores modelos da época, como od GT40, os Alfa Romeo T33, GTA e GTAm, tivemos os BMW Schnitzer e muito mais.
E volta e meia, um desses modelos ia parar às mãos de um piloto excepcional. Foi o caso de Ernesto Neves e o seu inesquecível Lotus 62, um notável “unicórnio” do automobilismo.
O Lotus 62 foi concebido para competir em Grupo 6 e desenhado por Martin Waide da Lotus Components. O objectivo era promover o novo motor Lotus 904 de dois litros, de bloco Vauxhall (o mesmo que equipou o Chevette HS de rali), que acabou por se revelar o seu maior calcanhar de Aquiles. A aerodinâmica exuberante, segundo relatavam os pilotos, também não era perfeita, sofrendo de falta de carga na frente a alta velocidade.
Desenvolvido tendo como ponto de partida o Lotus 47, o 62 tem uma estrutura tubular própria, desenhada para albergar umas generosas rodas com as mesmas dimensões de um Lotus 49 de F1. O peso total era de 567kg e o motor debitava 240cv.
John Miles e Brian Muir experimentaram várias decepções e desistências, apesar de alguns triunfos e, por isso, em 1970, os dois exemplares (#T62/GT/1 & #T62/GT/2) foram colocados à venda pelo Team Lotus por cerca de 6000 libras.
O Team Palma tinha tido grande sucesso com o Lotus 47 pilotado por Ernesto Neves e, como tal, aproveitou a oportunidade e adquiriu o chassis GT/2, enquanto o GT/1 primeiro rumou aos Estados Unidos.
Nesta nova vida, o Lotus 62 ex-Gold Leaf conquistou diversas vitórias em Portugal e Angola, mas o mérito terá sido muito mais do talentoso Nené, do que da exótica, mas imperfeita máquina.
A “reforma dourada"
O 62 acabaria por ser vendido ao agente Lotus em Angola, que acabou por danificá-lo num acidente. Em 1975 regressa a Portugal, e viria a ser recuperado por Américo Costa, do Team Palma.
Em torno de 1980, Ernesto Neves decide adquiri-lo e guardá-lo. Nos anos seguintes teve algumas aparições públicas em alguns eventos, mas não mais competiu. Por isso, em 1995, Neves decide vendê-lo, tendo como destino um coleccionador japonês que o restaurou devidamente e lhe devolveu as cores Gold Leaf.
O Lotus 62 passou a ser usado pontualmente em provas de clássicos e não mais mudou de proprietário.
O “gémeo” #T62/GT/1
O chassis como número 1, passou os últimos 38 anos nas mãos do mesmo proprietário. Tal como o outro Lotus 62, foi alvo de um meticuloso restauro e, desde então, não terá sido usado por mais do que oito horas.
De entre as suas saídas, destaque para a participação numa prova do Monterey meeting em Laguna Seca em 1995, e nas celebrações dos 50 anos da Lotus em 1998, no Goodwood Revival.
Este exemplar está actualmente à venda na Califórnia, pela empresa Grand Prix Classics.
Em 2022, o Campeão do mundo de F1 Jenson Button, em sociedade com o apresentador e produtor de televisão Ant Anstead, com o designer Mark Stubbs e o advogado e investidor Roger Behle, anunciaram o Lotus-Radford 62.2.
Tratava-se de um automóvel inspirado no Lotus 62, baseado num moderno Lotus Exige V6 sobrealimentado, do qual retiravam 600cv.
A ideia era produzir 62 exemplares a um preço a condizer com a exclusividade. Contudo, há alguns dias foi anunciado na imprensa internacional que a empresa estava entrou em insolvência.