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Como visto na TV! #1

No tempo em que não havia Top Gear , nem YouTube, qualquer automóvel que aparecesse na TV por mais do que uns segundos, era motivo de conversa. Recordamos vários modelos, com diferentes “cachês”.

Há 35 anos não havia programas de automóveis, nem havia 100 canais à escolha.
Éramos livres de optar entre a RTP 1 e a RTP 2, mas só até ao jantar, porque depois sobrava apenas um canal. Então sabíamos que o vizinho, a avó, o primo, o patrão e toda a gente estava a ver o mesmo que nós. Sentíamo-nos unidos pelo “1,2,3!”, pelas novelas e pelas séries televisivas.

Para o entusiasta dos automóveis, havia transmissões de Fórmula 1 grátis, mas mais nenhum programa era dedicado à sua paixão. Por isso, ao ver qualquer série, pessoas como nós reparavam mais nos carros do que no enredo. Enquanto a mulher se indignava com a forma indecente como J.R. Ewing tratava a sua família, o marido sentia-se chocado com o impacto estético dos para-choques longos e das óticas americanas nas linhas outrora elegantes do Mercedes-Benz SL R107. Ao ver “Modelo e Detective”, era impossível não pensar duas vezes em Cybill Shepherd mas, ao passo que ela já passou o seu auge, o BMW 635 CSI mantém uma das melhores silhuetas da época.

Para a maior parte dos espectadores, os automóveis eram apenas mais um adereço, ao passo que para os entusiastas eram o actor principal. Isso explica porque éramos tão exigentes com eles e com os seus papéis. Mesmo nas séries em que os automóveis eram protagonistas intencionais, o seu desempenho raramente era satisfatório para quem gosta de automóveis. A ideia de haver um Pontiac Trans Am conversador e com sentido de humor, não era nada que nos irritasse, mas ouvir pneus a chiar em terra já era demasiado inverosímil para aceitar!

Independentemente da qualidade de cada programa, era mais provável decorarmos os modelos usados em cena do que os nomes dos actores. Inexplicavelmente, havia um fascínio quase infantil em ver imagens de um carro em acção, principalmente quando se tratava de um modelo europeu que conhecíamos de perto. É que por muito atractivo que um Dodge Charger nos pudesse parecer, a probabilidade de vermos um, era tão grande como a de levar a Daisy Duke a jantar sem levar dois murros dos priminhos dela.

Nas produções nacionais, era mais fácil encontrar modelos com que nos identificamos mas, por agora, escolhemos cinco exemplares que foram estrelas em séries norte-americanas e britânicas.

 

Peugeot 403 Cabriolet  1958-1961

Porquê este modelo?
Nas séries televisivas como nos filmes, mesmo quando vistos como um simples adereço, os automóveis podem ser fundamentais para ajudar a caracterizar uma personagem. Os desportivos ou descapotáveis indicam um tipo extrovertido, as grandes berlinas ou limusinas indiciam personagens mais sérias ou mesmo arrogantes, ao passo que um jipe ou uma moto remetem para pessoas descontraídas e divertidas. No caso de Columbo o Peugeot 403 decrépito era fundamental para caracterizar um indivíduo desleixado, mas peculiar na sua forma de estar. O Peugeot 403 é uma escolha invulgar enquanto clássico e muito mais enquanto carro do dia-a-dia, como era o caso do famoso inspector. O carro francês maltratado, a gabardina amarrotada e o Basset Hound chamado “Cão”, eram traços fundamentais do perfil de Columbo e que o ajudavam a distinguir do estilo aprumado e elegante de um Hercule Poirot.
A personagem representada por Peter Falk era a de um homem simpático, amistoso, distraído e de ar pouco credível, que fazia com que os criminosos o subvalorizassem. Isto até o detetive terminar a conversa com a sua típica frase “Só mais uma coisa…”, normalmente seguida por um raciocínio que dava a entender que estava perto de desvendar o caso.

O que procurar

Antes da filmagem da primeira temporada, realizada por Steven Spielberg, foi Peter Falk quem seleccionou o carro partir do “stock” da Universal Studios.
Uma das piadas da série era a preocupação constante de Columbo em estacionar o carro sempre na sombra para que o sol não danificasse a pintura, já praticamente inexistente. No mundo real, é igualmente difícil encontrar um 403 em bom estado e muito menos um Cabriolet. À semelhança do que acontecia com outros descapotáveis da marca, o preço era 80% superior ao da berlina, tornando-o muito exclusivo, com pouco mais de 2000 exemplares produzidos. Hoje acontece o mesmo, com o Cabriolet a atingir os 35.000€ de cotação, em contraste com os 8000€ do Berline. Mecanicamente, os dois modelos não diferem, usando ambos o conhecido motor de 1.5 litros e 60cv. Era uma evolução com base no motor do 203, com cabeça “Alpax” de câmaras hemisféricas. Este modelo não tem nada a ver com rapidez, por isso procure demoradamente pelos sinais de corrosão e, mais importante ainda, garanta que as peças específicas do modelo estão presentes e em bom estado, pois são difíceis e dispendiosas de adquirir.

Para que serve
É um carro elegante, como a maioria dos modelos desenhados por Pininfarina para a Peugeot. Tanto a versão descapotável como os Berline e Familiale são excelentes para passeios relaxados, por serem confortáveis e muito fiáveis.

Perfil do “actor“
O 403 é como aqueles actores seniores que têm tanta presença no ecrã que não precisam de porte atlético ou de muita maquilhagem para captar a atenção. O 403 é uma espécie de Nicolau Breyner .

Alternativa
Em Poirot há em episódio com uma cena de perseguição em que entra o derradeiro cabriolet de cinema: um Alfa Romeo 8C 2900B Spider. Se tiver uma conta “offshore” da qual esteja farto, esta é uma boa aposta.

Motor: 4 cil. Em linha; posição longitudinal dianteira; válvulas à cabeça; 1468cc;
Carburador Solex; 65cv às 4900 rpm; Transmissão: traseira; 4 Vel. Man;
Travões: à frente, de tambor; atrás, de tambor. Sem servofreio;
Chassis: monobloco em aço de 2 portas e 4 lugares;
Comprimento: 4470mm; Distância entre eixos: 2667mm; Peso: 1383kg;
Velocidade Máxima: 130 km/h

Utilização: 3
Manutenção: 4
Fiabilidade: 4
Valorização: 4

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