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O desconhecido Fiat 131 Abarth... Diesel!

Todos conhecem o ícone do Gr.4, que dominou o WRC, mas da versão “económica” ninguém se lembra
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1 de ago. de 2024

Fotos: FCA Heritage e AutoSprint

Muito antes de haver JTD fumegantes e pseudo-desportivos a gasóleo, a Fiat surpreendeu e impressionou o mundo com um 131 Abarth Diesel.

No final da década de 70, a Fiat decidiu lançar no mercado uma versão Diesel do 131 Mirafiori, e decidiu testá-la, antes da sua apresentação oficial, numa incrível corrida de resistência, de Londres a Sydney: o excelente resultado foi um lançamento- base para o sucesso comercial do automóvel.

Tendo agendada a apresentação da nova versão Diesel para Abril de 1978, no Salão Automóvel de Turim, a Fiat decidiu inscrever três automóveis de pré-produção, devidamente preparados pela Abarth, no Rali Londres - Sydney, uma corrida de resistência intercontinental particularmente dura, na qual vários construtores participavam oficialmente.

O motor Diesel, construído nas fábricas da SOFIM em Foggia, era uma unidade de quatro cilindros com uma cilindrada de 2,5 litros, que debitava 72cv às 4.200 rpm. O volume do bloco obrigou a adicionar uma protuberância no capot, que se tornou uma característica distintiva de todos os 131 Diesel.

Um dos quatro exemplares foi utilizado para o desenvolvimento, tendo os outro três sido construídos posteriormente. O trabalho de preparação realizado pela Abarth teve como principal objectivo permitir que os carros suportassem as tensões prolongadas que iriam enfrentar durante a corrida. O pára-choques dianteiro foi utilizado para montar os grandes Cibiè Super Oscar como faróis auxiliares, enquanto as fixações do pára-brisas foram reforçadas. 

A grande familiaridade com o 131 Abarth que todos conhecemos, vem das jantes,  dos guarda-lamas largos (neste caso rebitados), assim como o arco de segurança, o capot e os ganchos de retenção da tampa da bagageira.

A 14 de Agosto de 1977 havia três automóveis Fiat 131 Abarth Diesel na linha de partida em Londres: o número 6, conduzido pela equipa francesa Robert Neyret (especialista em ralis marroquinos) e Marianne Hoepfner (uma hábil piloto de ralis e raides); número 26, com a equipa italiana composta por Giancarlo Baghetti (ex-piloto de F1 da Ferrari, Lotus, Brabham, BRM e ATS nos anos 60) com Tommaso Carletti (engenheiro da Fiat, responsável pelo departamento de desenvolvimento);  número 66, a equipa feminina das jovens francesas Evelyne Vanoni e Christine Dacremont. 
Estes integravam uma comitiva de quase 180 carros inscritos.

A prova foi organizada pela Singapore Airlines, que planeou o percurso passando por todos os principais aeroportos. A partida em Londres foi em Covent Garden, de onde os carros seguiram para a costa para apanhar o primeiro ferry, que os levaria durante a noite até à Holanda. Uma vez no continente, a rota ziguezagueava de Amesterdão para Frankfurt e depois para Paris, antes de seguir para Milão. Foram necessárias 11 horas para atravessar a Jugoslávia e finalmente chegou à Grécia, onde as equipas podiam descansar depois de quatro dias e quatro noites de condução ininterrupta. No entanto, devido à necessidade de compensar os atrasos acumulados, apenas algumas equipas conseguiram realmente descansar.

Depois de Atenas, veio a parte mais competitiva: Salónica, Istambul e Ancara, até Teerão. 400km de deserto de sal para chegar a Tabas, no Irão. Depois para nordeste até Fariman, através de todo o Afeganistão até Herat e Kandahar, depois Cabul, e através da fronteira noroeste até ao Paquistão, seguido por Deli e Bombaim. Continuação por Bangalore e de navio para a Malásia. De Penang, duas etapas nas plantações de borracha, passando por Taiping, Ipoh e Tanjong Malim até Port Dickson, na costa, depois de Muar, no sul da Malásia, até Labis, Kluang, Jemaluang, Johor Bahru e finalmente Singapura. A parte seguinte, na Austrália, envolveu mais de 13.200 km, percorridos em sete dias e 16 horas.

O percurso da prova, principalmente em estradas não pavimentadas, teve mais de 30.000 km de extensão e os 30 dias planeados foram alargados para 45. 

Antes do final, a dupla feminina viu as suas aspirações caírem por terra, após uma colisão com a equipa francesa Dacremont/Vanoni, num Citroën CX 2400, que provocou um violento capotamento do Fiat.

Os outros dois 131 chegaram a Sidney no dia 27 de Setembro e o carro de Baghetti/Carletti venceu a categoria. A dupla Neyret/Hoephner terminou na 23ª posição da geral, e segundo na categoria Diesel. 

Mesmo antes do seu lançamento oficial, o 131 Diesel já tinha construído uma reputação impressionante, graças à ajuda da Abarth.