À hora a que se fecha os portões do salão parisiense, há uma sensação de que se desvendou o rumo do resto do ano no que diz respeito ao mercado. Sendo óbvio que o mercado deste evento é estratosférico e bem diferente de países como Portugal em termos de dimensões, a verdade é que os leilões acabam por ser a mais evidente referência para vendedores e compradores, por serem transacções públicas. Assim, acabam por influenciar o restante mercado. Os resultados extraordinários registados desde 2016, fizeram subir as cotações de uma forma generalizada e por vezes exagerada, que se sabia ser insustentável. Sabia-se que havia um fim para este ciclo e o fim é o ano de 2020. Depois de alguns resultados pouco positivos nos últimos leilões americanos de 2019, a tendência manteve-se em Paris. Mas o que sucedeu foi mais do que uma simples queda de valores. Houve uma confluência de factores que condicionaram esta tendência. Logo à cabeça, uma mudança legal no mercado norte-americano que ditou que passem a ser taxadas as mais-valias nas transacções de automóveis. Em seguida, um abrandamento da economia europeia causou um refreamento pela parte dos investidores que não estão exclusivamente ligados ao sector automóvel e que, por outro lado, encontraram áreas de investimento alternativas em ascensão.
Perante este clima de incerteza, muitos dos proprietários dos melhores automóveis terão sentido que esta não seria a melhor altura para os colocar no mercado, o que, segundo os analistas da Hagerty, levou a que a condição média dos modelos levados a leilão seja claramente inferior, influenciando os resultados globais. Nos leilões de Janeiro no Arizona, por exemplo, apesar de um aumento de 17% nos automóveis vendidos, a soma total das receitas foi 3% inferior à edição de 2019.
Os leilões de Paris revelaram um cenário muito semelhante.
No ano passado, a Artcurial tinha atingido um resultado global histórico que superou os 36 milhões, mas deste “bolo” fazia parte o incrível Alfa Romeo 8C 2900B Touring Berlinetta, cuja venda ultrapassou os 16 milhões de euros. Assim, é de certa forma compreensível que este ano a receita total do leilão Artcurial não tenha superado os 22,5 milhões, apesar de terem sido vendidos dez lotes acima do milhão de dólares, sendo nove deles modelos de competição.
A RM Sotheby’s teve um resultado magro para o seu
habitual, com apenas 16,5 milhões de vendas brutas, uma enorme diferença para 2019, em que fechou as contas com 34 milhões de euros. Este ano, o lote mais valioso transaccionado pela Sotheby’s foi um BMW 507 de 1958, por quase dois milhões de euros.
Para a Bonhams este foi o melhor ano de sempre, com um total de vendas de 19.6 milhões de euros. Um valor que se explica por alguns lotes de valores acima da média. O melhor exemplo é o Bugatti Type 55 de 1932, que conta com uma participação nas 24H de Le Mans (com Louis Chiron aos comandos) e que mais tarde foi reconvertido para a utilização em estrada, recebendo uma carroçaria Figoni. A licitação vencedora atingiu os 4,6 milhões.
Assim, os resultados dos mais recentes leilões, embora registem uma quebra na ordem dos 15%, encontram explicações bastante concretas e que minimizam alarmismos. Mais do que uma desvalorização do mercado, há uma sensação de expectativa, uma pausa, tornada evidente pelo número de lotes sem reserva que saíram de cena sem licitações. Resta saber até quando se estenderá esta realidade e que impacto terá, pois a impaciência de alguns vendedores irá certamente levar a uma descida de preços.
Boas ou más notícias? Depende do lado que está quem as lê. O certo é que para o comum entusiasta, uma pequena desinflação será sempre bem recebida.
Balanço leilões Retromobile
Uma análise aos sinais dos três grandes leilões para o ano comercial de 2020.

Escrito por:
Motorbest
2020-03-01
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