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Ciccio Liberto, o sapateiro da F1

Não era mecânico, piloto ou engenheiro, mas influenciou a pilotagem de mais do que uma geração de pilotos, da F1 e não só.
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2 de out. de 2024

Fotos: Ciccioshoes.it

“Não me recordem com tristeza. Saibam que sou um homem feliz, porque cumpri o meu sonho: fazer parte do mundo da competição automóvel, aquele que eu sempre amei. Pude conhecer e fazer amizade com tantos pilotos, ser fornecedor da Scuderia Ferrari e até atingir alguma notoriedade internacional”.

Foram estas as palavras de Ciccio Liberto – mais conhecido por Ciccio de Cefalù – quando fechou pela última vez a sua loja em Janeiro de 2022, já a enfrentar a doença de Parkinson que o levaria.

Ciccio é uma figura muito mais relevante para o desporto automóvel do que seria de esperar de um simples sapateiro da Sicília. Ele foi, afinal, o inventor das botas e sapatos de condução, algo que não existia antes.

Foi em 1967 que Ignazio Giunti, piloto da Alfa Romeo, visitou a sapataria de Ciccio antes do início de mais um Targa Florio, pedindo-lhe que produzisse um calçado que fosse confortável para pilotar, sem perder a necessária sensibilidade.

Sendo apaixonado pelo desporto automóvel, Ciccio sabia exactamente o que era preciso e criou um botim com sola de ouro muito fina e larga, com longos atacadores para um ajuste perfeito e fabricado em pele fina. Eram feitos com o cuidado e a sensibilidade de umas luvas de condução.

Giunti estreou-os no Alfa Romeo 33 que pilotou no Targa Florio e adorou. O passa-palavra levou Ciccio a equipar todos os pilotos Alfa Romeo, depois a Ferrari, e depois muitos mais, numa longa lista que inclui nomes como Ickx, Reutemann, Fittipaldi, Regazzoni, Arnoux, Merzario, Lauda, Nanni Galli, Geki Russo, Vaccarella e Vic Elford.

Homenageado por marcas e revistas, visitado por jornalistas de todo o mundo e pilotos da actualidade como Vettel, tornou-se uma celebridade por mérito próprio e parte da história do automobilismo.