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Ford Cortina Lotus: o familiar atlético

O motor Lotus com base no bloco Kent, era uma oportunidade demasiado boa para a Ford deixar passar. Por isso, de um pacato familiar, fez um desejável desportivo.
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17 de out. de 2024

Há quem lhe chame Lotus Cortina, por razões que explicamos mais adiante, mas o seu nome oficial, nunca foi esse. Estranhamente, é um modelo com duas marcas , de seu nome Ford Cortina Lotus. Curiosamente, o automóvel que lhe serve de base, tinha dois nomes de modelo: Ford Consul Cortina. Esse foi o primeiro nome do modelo que acabaria por dar origem a uma série com 20 anos de duração. 

No início da década de 60, a Ford tinha no Anglia uma excelente proposta para o segmento de entrada enquanto os Consul e Corsair respondiam aos anseios dos que procuravam na gama da marca um modelo de segmento médio superior. O Cortina viria a nascer em 1962 para preencher o espaço entre ambos e que, naquela época, representava a fatia de mercado mais apelativa. 

O desenho invulgar da carroçaria foi um dos segredos do sucesso do MkI, tendo sido desenhado por Roy Brown Junior, o canadense que foi também autor do polémico Edsel.

O Cortina MkI existiu nas versões de duas e quatro portas e ainda em versão “Estate” e com diferentes níveis de equipamento. Inicialmente, o motor utilizado era uma derivação da unidade do Anglia, agora com 1197cc. Mais tarde por um motor totalmente novo de 1499cc que debitava 60cv na versão Super e 78cv na versão GT, graças a uma árvore de cames mais agressiva, a uma cabeça com janelas de maior diâmetro e ao uso de um Weber duplo. A suspensão do GT era rebaixada e um pouco mais firme para privilegiar a performance. O tablier era específico, com instrumentação mais completa. Exteriormente o GT distinguia-se pelos símbolos específicos e pelas jantes mais largas, que podiam ser Rostyle em opção. 

Enquanto isto acontecia, Colin Chapman procurava uma nova solução mecânica para os seus futuros modelos. Os motores Coventry Climax que até então haviam sido usados no Elite, eram dispendiosos e tinham uma margem reduzida para evoluções. Como tal, encomendou ao seu amigo Harry Mundy – então editor da secção técnica da Autocar – o desenho de uma cabeça com dupla árvore de cames que pudesse ser adaptada a um bloco Ford. Igualmente envolvido no projecto esteve Keith Duckworth, fundadora da Cosworth.  

Os estudos começaram com o velho bloco oriundo do Anglia, mas assim que foi lançado o motor de 1499cc com cinco apoios de cambota, apelidado de Kent, essa passou a ser a base de eleição, por suportar esforços e rotações superiores. O bloco Kent tinha também como vantagem a arquitectura crossflow, ou seja, admissão e escape em lados opostos.  O resultado era promissor. O motor, que estava a ser concebido para o Lotus Elan, foi testado pela primeira vez em prova, no Nürburgring, num Lotus 23 pilotado por Jim Clark. 

Logo que este motor começou a ser aplicado nos Elan, a Lotus gerou uma nova versão, agora com 1557cc de capacidade, aproximando-se assim do limite da categoria 1600 existente em várias modalidades do desporto.  O potencial do motor Lotus Twin Cam não passou despercebido à Ford, o que motivou Walter Hayes a abordar Colin Chapman no sentido de aplicar aquela mecânica a 1000 exemplares do Cortina, a fim de obter a homologação para competição. Estava assim lançada uma história de sucesso que não conheceu fronteiras. 

No entanto, para tirar proveito dos 106cv do motor Lotus, o Cortina teve de sofrer várias evoluções. A Ford fornecia as carroçarias à Lotus, que se encarregaria de todas as evoluções técnicas e retoques estéticos. Os Cortina Lotus usavam a caixa close dos Elan e uma suspensão muito mais evoluída, com molas helicoidais na traseira. O peso era outro aspecto revisto, com os painéis das portas, capot e mala a serem substituídos por outros, em alumínio. Em 64, quase em simultâneo com as actualizações estéticas do Cortina MkI, o alumínio deixaria de ser usado na carroçaria e as molas traseiras voltaram a ser de lâmina, por se considerar que o GT tinha um comportamento mais seguro.

Nesta altura, a Ford enviava as carroçarias para Hethel, que se encarregava de fazer as transformações necessárias e procedia à montagem. Essa é a razão que leva muitos entusiastas a referir-se ao primeiro modelo como Lotus Cortina, por oposição ao MkII, que foi integralmente desenvolvido  em Boreham e era montado pela Ford.

Desenhado por Roy Haynes, o Cortina MkII que servia de base, era elegante e moderno, mas foi sempre menos popular, apesar de mais refinado.

O Cortina Lotus “engordava” 77kg mas, em compensação, via o seu comprimento total encurtado e a largura aumentada, mantendo sensivelmente a mesma distância entre eixos. O que se ganhou em estabilidade, perdeu-se em agilidade, tornando esta a menos popular das duas versões e com uma cotação consideravelmente inferior.